segunda-feira, 28 de janeiro de 2019

Close your eyes

   Por anos eu deitei a cabeça na minha cama e pensava nela. Deitava e fitava o teto. Os olhos azuis desenhados na minha retina. Aquela lembrança tatuada dentro de mim, misturada com absinthe, sorrisos, silêncios... e eu te amei, menina. Eu te amei.
   Do amanhã a gente nunca sabe, mas eu sei que não te quero mais. Não quero mais sofrer por ti. Não quero mais... Eu sinto saudades tuas. Os beijos que não demos, a magia do que ficava no ar. Os agrados com almoços, carinhos, roupas lavadas (nem sempre bem entendidos).
   Alice amou Beatrice sem nunca saber. E nunca soube se era real a reciprocidade. Talvez não fosse...
   Mas eu senti tudo o que eu podia sentir e não queria.  Aquela novidade de amar uma mulher.. um amor tão comum, mas tão diferente. Algo que já tinha acontecido, mas não daquela forma. Não como com ela.
   Os olhos dela confundidos dentro dos meus. O hálito de vinho. De whisky. Hoje eu faria tudo diferente. Hoje, talvez, eu não a amaria.


quinta-feira, 24 de janeiro de 2019

Savior


It kills me not to know this, but I've all but just forgotten
what the color of her eyes, were and her scars or how she got them.

[...]

But seldom do these words ring true when I'm constantly failing you
Like walls that we just can't break through until we disappear.

[...]

That's when she said: "I don't hate you, boy.
I just want to save you, while there's still something left to save".
That's when I told her: "I love you, girl,
But I'm not the answer for the questions that you wtill have".

[...]

One thousand miles away, there's nothing lef to say,
But so much left that I don't know.
We never had a choice, this world is too much noise.
It takes me under... It takes me under once again.

Me desculpa...

   E a corda estica e não se rompe. Os pés não encostam mais o chão e o ar falta. O pensamento de falha. O desejo que alguém encontre essa situação acontecendo a qualquer momento para dizer: "não faça isso, vai ficar tudo bem". Mas ninguém vem. Todas as culpas engolidas e os sonhos abandonados. Todas as tentativas ralo abaixo. As tentativas de ser melhor, de conseguir alcançar...
   O aviso não chegou a tempo. A interpretação é de cada um e eu compreendi diferente. O verbo "partir" não significa pegar o trem, mas nunca mais pegá-lo. Une-se ao "e nunca mais".
   E a corda estica e não se rompe. E nunca mais.


quarta-feira, 23 de janeiro de 2019

Fogo

   As chamas acalmaram, embora urjam as labaredas do concreto da cidade. As chamas são os chamados que minha cabeça debruça aos meus pés - que tendem a pular, mesmo não pulando. O fogo é o inferno que carrega minha imaginação de todas as situações que eu tento fugir, daquilo que eu fui e que eu sou; daquilo que eu não quero. Não quero mais.
   As chamas cessaram e, apesar de todo o sufoco do dia-a-dia em permanecer em uma rotina adorável, eu aprecio a plenitude de sensações que creio nunca ter tido. Ou melhor, se tive, não recordo. Já foi divertido, mas nada é como agora. Já foi estressante também, e ainda é, mas hoje eu sei lidar e não me envergonho em ser feliz do jeito que sou e com quem está ao meu lado, de todas as formas.
   Hoje eu estou feliz e é incrível entender que essa palavra efêmera e ingrata criou asas em mim e me faz sobrevoar o mundo em tantas e tantas conquistas, planejamentos, concretizações: a verdadeira face do que é sentir acoplado à cumplicidade. A cumplicidade real e não aquela que se atira ao chão em lágrimas. Aquela que te segura quando te joga para cima. A montanha-russa deliciosa de voltas e velocidades como nunca jamais visto. Sem paradas. Apenas risos, mãos dadas e nossos olhares, tão claros quanto nossa pele.
   As labaredas a nos lamber a tez enquanto todo o amor que tenho dedico a ti.


domingo, 13 de janeiro de 2019

As nuvens, a certeza e a partida

"[...] Quando a gente menos esperava, as palavras aconteciam. As nuvens embaçaram o rosto dele por trás dos meus olhos, mas eu ainda conseguia enxergar a distância que aquelas feridas percorreram para voltar ao lugar de onde não conseguiu partir. As deformidades acumulando clínicas. As alegrias dentro de cada comprimido. Nossos corpos balançavam a mesma música e talvez nós dois também dançássemos sobre a motocicleta que agora corria sobre a rua deixando a cidade para trás. O asfalto debaixo dos nossos pés, e tudo era tão depressa. A cidade perdia as casas, as árvores, as pedras. Um pouco mais de asfalto a cada ano. Os cachorros latiam e, antes que eles acordassem, já estávamos longe dos seus dentes. As nuvens carregadas de gelo pesavam sobre nós e talvez fôssemos destruídos antes mesmo de chegar às plantações no limite da área urbana. O ronco forte do motor esquentava as minhas pernas e o inverno era uma estação distante dos nossos corpos voando sobre a motocicleta. O vento gelado da noite acordava as lágrimas guardadas e eu chorava sem que ninguém notasse. Longe de mim mesmo eu chorava as distâncias que nunca teria vencido se ele não tivesse me levado. Por mais que corrêssemos, já estávamos longe. Por mais que sumíssemos em estradas desertas dentro da escuridão, nunca estaríamos longe o bastante. Nunca seria o suficiente para esquecer. Para que nos esquecessem. É preciso certeza para partir. É preciso não ter, para onde chegar."

[CANEPPELE, Ismael. Os famosos e os duendes da morte. São Paulo: Iluminuras, 2010, p. 76]


sexta-feira, 11 de janeiro de 2019

Nem pense nisso

   Quando os lábios murmuram que, talvez, estive pensando em. Alguém sempre diz: "nem pense nisso!". Mas, meu bem, eu já pensei... E eu estive pensando... Por que tu foges dos meus pensamentos? Eu penso. Penso o tempo todo. Nunca deixou de ser opção.
   "Nem pense nisso!". Como se esse cuspir de palavras à ideia que te traz asco fosse desenlear os nós que se apertam cada vez mais.

   Quando dá aquela vontade de fugir, para onde se corre? Para onde se vai?
   Alice cansou das facas, mas elas continuam cortando. Cansou de chorar, mas as lágrimas continuam descendo. Alice sente dor, mas não sabe aonde exatamente, nem por qual motivo. Só sabe que dói e dói tanto.
   "Nem pense nisso!" e Alice ri.



quinta-feira, 10 de janeiro de 2019

Luto


   Não tem o que dizer. Nunca tem. As pessoas somem e está tudo bem. O outro lado da linha é logo ali. E está tudo bem. Dizem. E nós tentamos nos convencer de que realmente está TUDO bem, mas nunca está; muito menos dessa vez.
   A rotina que nos engole faz os que ficam tropeçarem. E aqui está: o desespero dos que ficam! Dos que enxergam. Que não conseguem. Que não entendem.
   A abstinência dói e nos sufoca tanto quanto o sorriso que não surge. O único conforto é o silêncio. Compartilhado. Mas, de repente, depara-se com a casa desarrumada e todos os pequenos detalhes que permaneceram antes de.
   A dor é dos que ficam. A tristeza é do que ainda poderia ter vindo e não vai mais acontecer. Nunca mais. O conformismo não vem: transborda peito afora e aflora em lágrimas tombantes. Retumbam na memória as vozes e a doçura de ser. De ter sido.
   A dor é dos que ficam.



sábado, 5 de janeiro de 2019

2019 e bláblá

   Todos os anos eu escrevo aqui alguma coisa antes de iniciar o ano. Algum "aprendi neste ano que acaba que (...)" e outro "que o próximo ano me traga (...)". Não dessa vez. E não sei o porquê. Simplesmente não tive vontade, nem tempo a perder.


   Com licença, eu tenho uma vida além dos dedos, rascunhos, teclas e canetas. Descobri há pouco que, apesar das minhas várias oscilações, entre alegrias estonteantes e cortes sangrentos, tem algo me esperando mais para frente. Preciso me agarrar nisso. Em anos, acho que é a primeira vez que percebo que esse algo é um futuro que nunca quis. Ou melhor, que nunca pensei que queria tanto.
   Do grande clichê, 2018 foi o ano que eu deixei para trás e pronto; 2019 será o ano que me aguarda e é isso. Nada mais. Sem grandes experiências ou perspectivas. Apenas vai ser o que é. Ou vai ser o que vai ser. Porque o que foi, meu bem, nunca mais será. Entende?
   A onda engole o nome desenhado na areia e a borracha apaga as letras de músicas nas últimas páginas do caderno. Agora é tudo novidade e eu quero é conhecer isso sem amarras. Acabou.
   Que todas as gaivotas saibam se libertar em um voo alto e fresco, sem necessidade de retornar com galho verde para comprovar terra firme. Que a terra firme permaneça onde está e a embarcação descubra sozinha o que os pássaros já sabem.
   Que seja lindo, leve e novo. Apenas.