sábado, 17 de novembro de 2018

True Blood

   O sangue é tão lindo! A coloração tão forte escapa, flui, viscoso pela derme. A lâmina que beija a palidez de minha pele desenha o caminho que as gotas rubras nascerão, sujando a roupa e os dedos, adocicando o ambiente com o frescor de seu aroma.
   As lágrimas da minha existência já não brotam de meus olhos: pulsam, vívidas, com a força de quem quer permanecer em pé. É difícil ficar em pé. Poucos entendem e, inexplicavelmente, quase todos querem.
   Talvez me falte coragem, loucura, egoísmo... Talvez haja uma breve chama que mantém qualquer coisa acesa. O certo é que ou o corte afunda, ou os olhos se tornarão vítreos, passeio para os vermes... 
   Secreta e inexplicavelmente, quando fecho as pálpebras, consigo ouvir o som do crânio rompendo, a batida da queda livre de muitos andares. Algo, não sei o quê, me mantém longe da janela. Toda a adrenalina do salto se transforma em um vermelho profundo e, devagar, a angústia passa para que eu permaneça sã.
   A perna resta cada vez mais marcada, bem como a alma estilhaçada aparece em pedaços cada vez menores, - difíceis de encontrar o encaixe certo -, mas os pulmões continuam se enchendo e o coração batendo. Por mais não sei quanto tempo.