quinta-feira, 28 de junho de 2012

Talvez doce.

O segundo dia de inverno trouxe, aos meus olhos, uma peculiaridade atípica das imagens que possivelmente, caro leitor, lhe vêm à mente. Havia Sol, em primeiro plano. Sim, havia Sol! Tímido, mas acalentador. Era o segundo dia de inverno e o Sol brilhava por entre os galhos desnudos.

A cena se passa sobre as raízes de uma árvore. Um pequeno trecho de grama verde, encoberta por uma toalha quadriculada... e nossos corpos. Corpos distintos, com o afeto reprimido por entre os dedos, cuidadosos com os copos de café fumegante. Quero-queros quero-querendo por entre as folhas acobreadas e secas.
E haviam sorrisos! O meu sorriso decifrando o sorriso dele. Os lábios dele reverenciando os meus. Ali estava: o vento acariciando carinhosamente meus cabelos, ao mesmo tempo que, harmoniosamente, afagava os pensamentos dele.
Foi no segundo dia de inverno - com Sol, vento brando, o frio em fuga - passei com ele o melhor dos nossos silêncios. A felicidade a nos mordiscar as bochechas.

domingo, 24 de junho de 2012

Talvez sensível.

Esse espaço deveria, hoje, ser reservado para uma mensagem feliz.
Aqui estou eu, mais uma vez, trazendo um pequeno sorriso cego tal qual o nome dessa página.
(Talvez em uma tentativa de não chorar outra e outra vez.)

Quando a febre me invadiu o corpo, já sabia que adormeceria
sobre as lembranças do travesseiro mofado dos meus últimos anos.
E ali fiquei.
Às vezes, é assim que me sinto: um amontoado de tecidos.
Sangue bombeando os sentimentos para fora dos limites do corpo.
As dores do coração invadindo a cabeça e escorrendo pelos fios de cabelos.

Hoje, não mencionarei os olhos vazados, tristes, mortos...
Nem o Sol, o céu, o sorriso que não ofereci ao mundo.
Hoje, eu abri a janela e pensei em como seria a sensação de mergulhar através dos nove andares desse prédio.
As lágrimas como borboletas assustadas pela face.

A verdade única é que cansei de inventar felicidade onde ela não existe.

quinta-feira, 21 de junho de 2012

Boteco

Mesa de bar. Eram dois sorrisos finos em lábios finos. Falavam  espanhol. Um, eu não via; só as costas, a nuca, o cigarro queimando entre os nós dos dedos. O outro eu batizei de Ronaldo... Ricardo... Rômulo! - qualquer nome com "R" -. Acho que combinava com o nariz desenhado e reto que ele tinha. A fumaça resvalando pelos lábios frágeis. Os dentes brancos, sempre à mostra. Balançava a cabeça como quem desaprova. Covinhas nas bochechas.
A espuma da cerveja de marca ruim flutuava no copo. Discutiam política, os Simpsons, os americanos. Argentinos! Eram, os rapazes, definitivamente, argentinos.
E eu prestando atenção na mesa do lado enquanto o moço da minha mesa, na minha frente, olhava fixo - pois já não sei se lia - as costas de "Ovelhas Negras". Ali estava Caio Fernando Abreu reproduzindo orgulho de mim, de outra perspectiva (certamente!), observando-nos nessas duas mesas. Ria-se do universo em sua estupidez.