quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

A lâmina


Tudo o que o silêncio carrega
Rasga o peito em sonhos dilacerados
As ondas que não estão no mar
O azul que a gente foi
O que a gente foi
E foi.

Flutua de volta o passado em mim
Traz as lágrimas e o vazio
É o fim. É o frio.
É o que a gente foi
E será.
Nunca mais.

Os ritmos daquela dança
A angústia das noites sem dormir
A lâmina que brilha e sorri
Os caminhos que nos deixaram cegos
A cegueira que foi.

E se tudo rasgasse, explodisse, voasse?
E se tudo voltasse, amasse, doesse?
Ficaria a calma do teu corpo no meu corpo
Manteria a dor em cada esconderijo
Tudo de novo?

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Migalhas

   Alice se alimenta de migalhas.

  Talvez agora ela entenda a fúria, mas o vazio continua não preenchido. Os ossos seguem doendo e a face se estica em um sorriso amarelo.

   Alice agora é um passarinho. E voa. Voa e se esquiva das pedras lançadas pelos bodoques das crianças más. Voa e mergulha através e pelo som, dos estalidos, da angústia, da raiva.

   No bico, apenas migalhas.