quinta-feira, 29 de março de 2012

As únicas flores

Onde está o homem que preencheu madrugadas de julho por quais minha vida acompanhou, mesmo em distância? As músicas e gargalhadas que apenas o silêncio lembra estão escondidas por alguma gaveta.
As pétalas de rosas que me deste murcharam, embora continuem vivas, vermelhas e recheadas de surpresas nas páginas do caderno que emprestamos, unidos, nossa caligrafia para melhor explicar a sucessão dos banhos de chuva em madrugadas frias ou de carinhos em noites não dormidas.

Procuro por um homem em especial, toda noite, na minha cama. Sumiram os olhos pardos e os lábios tão bem desenhados - os quais esperei por toda a vida.
Se fui abandonada? Se afirmo, logo, que minhas inseguranças me aproximaram de meus medos, já consegues imaginar o que veio a se passar com o mundo ao meu redor...
Eu disse adeus àquele que me recolheu do lixo.

sábado, 24 de março de 2012

"Vai embora e os momentos bons se foram"

Aguardo ansiosamente as nuvens carregadas e escuras. Achei que o sol era bom e que o sal da praia na minha pele iria me fazer sorrir com mais intensidade. Ousei crer que o caramelo lambuzado nos lábios cor de amora me trariam uma descoberta doce, única e desejosa de reiterações. Agora, nem mais a nicotina exclui esse enjôo de minha boca...
Dessa rejeição, só sobraram os meus eternos olhos vazados, banhados em sangue, trazidos pelas repetidas lágrimas em meio à minha pele ressecada pelo verão. Volto, portanto, à timidez incomparável das queimaduras dos flocos de neve que me banham o corpo: beijos delicados e efêmeros, como tudo é e sempre foi.
Das dores, carrego apenas a força de suportar indiferenças. Nunca nada fez sentido e não vejo motivo para descobrir tal ponto de interrogação; só, dessa forma, posso perseguir a rotina e continuar na inércia do que tantos apelidam, com alegria inexplicável, de "vida".

quinta-feira, 1 de março de 2012

Demônio da Perversidade


"E porque nossa razão nos desvia violentamente da borda do precipício, POR ISSO MESMO com mais ímpeto nos aproximamos dela." - Poe
A vida do homem, para que, inexplicavelmente, possa se considerar racional, necessita da negação do que lhe serve o instinto. Agir conforme a natureza é tentação; até onde esta "tentação" do desejo, do 'não', pode influir na seqüência de descobertas positivas para um indivíduo?

Deitada na cama dele, hipnotizada pelos olhos verdes que me cederam sorrisos, me apercebi inteiramente entregue ao que Poe designou ser um "demônio da perversidade". Não tive medo, entretanto, e aceitei permanecer naqueles olhos assim, como ele permanecia nos meus.
Deus escreve torto por linhas retas, finalmente. Enquanto meu instinto me aproximou de dores incontestáveis, a tentação me colocou ao caminho do acaso, loucamente distante de tudo o que eu já ousei conferir. Meu sono, portanto, foi tranqüilo. Dormi presenciando inquietação: que me punam os anjos por ter bem me divertido.