sexta-feira, 24 de junho de 2011

Hors de Question.

Já não tem mais definições. É só um corpo atirado de qualquer maneira, sofredor, em meio a um colchão ruim. A palidez seletiva das moscas, um lacre semi-rompido na visão. Era um corpo e nada mais.
Do que serve falar do sorriso que dava, do olho que brilhava ou da pele que incendiava?
Ficou ali, estatelada como morta: ninguém teria capacidade de erguê-la, de limpar suas feridas, de sentir algo por aquilo que representava naquele instante.
Quis ser bonita e perdeu o controle na altura do seu salto. Quis casar, mas cansou de deparar-se com a Sra. Insatisfação negando-lhe os sonhos. Já não tinha controle sobre a febre, a regulação da intensidade da cefaléia.
E do jeito que caiu, ficou. Ninguém jamais se questionara. Empecilhos trazem sorrisos junto às dores - ninguém sofre sem delírios tortos.

domingo, 19 de junho de 2011

Para a minha união estável.


Eu o vi vindo: atravessava a rua para me encontrar. Não contive o choro soluçado e as lágrimas que escapavam descontroladas fizeram-me abaixar o rosto. Ele me abraçou e seu timbre carinhoso exclamou baixinho “Não precisas mais chorar. Eu estou aqui.” E foi então que eu entendi que estava tudo bem e que nada mais interferiria na minha felicidade com ele.
Decidi aceitar o fato que os olhos considerados eternamente vazados encheram-se do brilho mais sincero, rechearam-se de sorrisos orgulhosos em meio à vida que (re)começava. Foram muitas dúvidas, mas o pé encontrou o chão assim que começou no seu primeiro caminhar – e a jornada seguiu lindamente.

Hoje me encontro cada vez mais perdida no castanho desse teu jeito de me olhar, tão malicioso, confortável e seguro. E não quero estar contigo para o resto da minha vida: quero estar com tuas histórias, tuas risadas, o teu eu comigo; quero estar vermelha de raiva discutindo e te perceber risonho de nervosismo; as nossas intimidades restritas ao sonhar em meio aos teus braços, às situações esdrúxulas com desconhecidos da rua, ... Bububububububu. Te amo.


sábado, 4 de junho de 2011

Metamorfose.

Qual menina que, quando nova, não roubou o batom vermelho da mãe e se pintava - praticamente a cara toda?
Eu roubei e escondi. Mamãe dizia que eu poderia usar quando fosse mais velha. Esperei por anos e perguntava para ela se já era o momento certo... sempre ouvi "Fica feio.. espera um pouco mais..".

A menina que habita em mim resolveu sair para passear. Na loja de cosméticos, fui atraída apenas pelo famoso batom vermelho. Em uma atitude muito madura, comprei.
Foi quando cheguei em casa que, escondida - mais uma vez -, pintei meus lábios daquele encarnado tão atraente. Só alguns meses depois, porém, que a menina entendeu que já era mulher e que podia se dar ao luxo de usar aquele disfarce sedutor sempre que quisesse. Assim, o blusão de linha fina e branca juntou-se ao lenço preto de bolinhas igualmente brancas, o cabelo dourado e o olho azul - tão apagados na lineariedade da tez clara - contrastaram com o acréscimo da cor nos lábios em sua nova composição.
De repente, perdeu o brilho o fato de perceber que já ser mulher é poder desfrutar do que a menina ainda taxa como "proibido".
Ser criança vai ser - SEMPRE - mais divertido.