quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Welcome, stranger.

Li em algum lugar, certa vez, que podemos quebrar nosso coração em quantos pedaços forem, a vida não pára para que possamos consertar. O tempo passa rápido demais e seguir em frente nem sempre é uma decisão própria. Pode até ser um chavão, mas tem tanta verdade nessas palavras quanto calmaria em água de poço.
Um dia a gente acorda e a cama está vazia, o silêncio mastiga as paredes e a sujeira se arrasta pelo chão. A pia entope, o banheiro se imunda e as janelas engorduram. Mesclar a dor com o respirar nem sempre é uma opção.
O espelho reflete um rosto velho demais, cansado demais, triste demais. Neste momento, alguma coisa dentro de si questiona: "O que eu fiz comigo?". Nós choramos sem saber o porquê, mas faz sentido de alguma forma. O ano passou rápido demais.

"Nós somos o que fica depois disso. Nós somos a ressaca que não passa."

Feliz ano novo para quem não tem medo do tombo.


quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Ressoa em mim teus sons

Todas as músicas que ouvi sozinha nesses últimos dez anos pensando nele começaram a tocar... E quem as colocou para ouvirmos foi ele próprio. Conversávamos sobre tudo naquele momento: sobre a formação e dissolução de bandas, sobre o que aquela melodia representava para nós, sobre...
Ele estava ali, na minha frente, depois de tanto tempo querendo estar na frente dele. Todas as sensações que eu acreditei que sentiria naquela situação, eu realmente as estava sentindo. Ele escolheu uma música aleatória para ouvirmos e eu só conseguia pensar "eu adoro essa música e eu amo esse homem". Era como se eu tivesse esperado a vida toda para estar ali, dividindo aquele momento com ele (se bem que dez anos de espera podem significar quase uma vida toda...).
Estávamos na cozinha: eu lavava a louça e ele enxugava. Era como se estivéssemos presos àquele momento, tão simples e tão complexamente significativo...
E eu encostei meu rosto no peito dele e dancei com ele sem ele saber.



I'll take you over if you let me.

sexta-feira, 28 de outubro de 2016

Ausência

De repente tudo e de repente nada. Não entendo o motivo desse Sol lá fora. Desses sorrisos que pessoas lustras de suor conseguem dar enquanto engolem a gordura hidrogenada dos sorvetes de chocolate. Eu aqui: do lado de dentro, olhando para fora, atrás do vidro da janela.
Quando me chamam, eu já não respondo. Queria que as pessoas se acostumassem com minha ausência, assim como eu me acostumei. Fisicamente, talvez, eu ainda exista... Acho que ainda existo, sim, porque ainda sinto um breve calor em abraços, um remorso eterno por ser quem eu era enquanto existia. Mas apenas (e brevemente) no plano tátil, afinal, como explicar para as pessoas que tua única vontade é a de ficar deitada, sem fazer nada, pelo resto da vida? Como explicar - e elas entenderem - que isso não é preguiça, mas uma desistência de sentir, de pensar, de mim (...)?
Já é a quarta xícara de café que despejo pelo ralo sem beber um gole. Esfriou. Ninguém gosta de café frio. Ninguém gosta de pessoas doentes. A doença dos outros te consome, mostra o quão frágil todos somos, o quanto nos detestamos de verdade.
Todos os espelhos da casa, da faculdade, do banheiro do ônibus (...), todos me mostram uma pessoa que eu não sou. Ou que sou, mas que já há tempos não reconheço. Olhar para si e perceber que todas as cicatrizes que carrega o corpo, as marcas de acne no rosto, os talhos ainda não cicatrizados (...), tudo pertence a ti sem que se queira ser o dono de tal fardo. E quando se adentra o olhar no fundo das próprias pupilas, impossível não enxergar as ranhuras que esculpiram naquela coisa que chamamos de "alma" - ou que autorizamos que esculpissem em nós.
Arrancar pessoas de dentro é natural ao ciclo, Dr.. O problema maior não é o assassinato, mas o que se faz com os restos. Em mim carrego todo o odor típico e fétido da podridão do decomposto, moradia aos vermes. E são tantos que já caminho tão pesada pelas ruas exatamente por não conseguir mais encontrar o que outrora busquei por independência.



Tudo é um ciclo. Tudo funciona dessa forma. De repente tudo e de repente nada.

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Simplemente.

Ele é o único que mantive o nome fiel nos meus escritos. O único. Não sei exatamente o motivo, mas assim foi. Depois de exatos dez anos, eu estou aqui, deitada nos braços dele. Olho ele dormir, sinto o corpo dele aquecer o meu, respiro o cheiro que a pele dele (branquinha!) exala. Poderia passar a minha vida toda aqui... Quero passar a minha vida toda aqui.
A matiz do verde do olho dele, eu nunca vi em lugar algum. Hipnotizou-me. O sorriso dele me dá vontade de sorrir também. Ele me trouxe uma vontade de viver que eu nunca senti, nunca achei que pudesse ter.
Danilo me ama como se eu não tivesse defeito algum, mesmo estando recheada deles. Ele passa os dedos pelos meus cabelos, meu rosto e, em silêncio, diz que me ama. Me ama com o cerrar lento de pálpebras, me beija com as matizes da íris, me inunda de tanto sentimento bom que eu, secretamente, tatuo por trás da minha retina cada detalhe dele e ele sequer desconfia.
Repito: nunca me senti assim. Em dez anos, colecionei cicatrizes, quedas, ardências... E Danilo vem e se entrega em um amor incondicional. Ele me protege: é meu anjo. Vem e me afasta de tudo, me faz esquecer que algum dia sofri. E eu amo esse homem de uma maneira que nunca pensei ser possível; amo e me entrego sem medo algum, porque eu sempre fui dele e isso jamais vai mudar.


sexta-feira, 29 de julho de 2016

Moça, sai da sacada

Passam os dias, os meses e os anos... e ela continua se sentindo cada vez mais afundada na criação que é menina Alice. A menina que esconde de si as facas da casa para que elas não estejam próximas quando. Que chora quando ninguém está vendo, por não querer explicar o quanto está cansada de fingir que gosta de si própria.
Em rodas de amigos, quando surge o assunto, estampa em seu rosto o sorriso amarelo costumeiro de quem finge que concorda. Ninguém entende. "Por que a pessoa faz isso consigo? Como pode? Eu não entendo por que disso. Que egoísmo! Ela não pensou na família antes de?" Ninguém entende.
A parte mais difícil talvez seja fingir concordar... enquanto, na realidade, a resposta de todos os pontos de interrogação estejam claros em sua frente, na ponta de sua língua, no último impulso antes de.
Será que existe como deixar de entender? Agora que Alice já conhece a fenda, existe maneira de preenchê-la definitivamente? É tão injusto as pessoas não sentirem. Talvez quem sinta seja mesmo diferente, seja "doente-louco-incurável".
Acontece que quanto mais Alice finge, mais cansada de si ela fica. Quanto mais esfrega, mais encardida.



Moço, ninguém é de ferro
Somos programados pra cair.

domingo, 24 de julho de 2016

Cass

No princípio do anoitecer, pode-se ouvir os gritos de Cass. Ninguém nunca soube exatamente o sentimento que carregava seu timbre após cada lambida do couro da cinta em seu dorso. Gritava de medo, de pavor, mordia os dedos, engolia o choro... E adorava! Queria mais! "A dor é boa".


Das marcas - várias - que batizavam o corpo de Cass, só ela sabia da procedência. Apenas ela poderia indicar quem foram os responsáveis por cada talho e explicar como pôde autorizar que fizessem isso nela. A verdade é que, muito tempo passou desde...
Então que, por alguns anos, Cass saiu da cidade. Deixou-se na imaginação de Buk e nunca mais voltou. Não para ele. Vestes passaram a esconder suas cicatrizes e aceitou a mudança em sua aparência, em sua postura. Algumas pessoas que passaram por ali jamais deixariam de existir, não importando a força que ela mesma fazia para fingir que nunca as conhecera.
Bem verdade que, tanto tempo se passou e Cass conheceu um homem. Um homem proibido, com cicatrizes e desenhos pela pele, com algo de misterioso, mas que a menina nunca quis ousar em desfazer o laço do embrulho para descobrir o real conteúdo. Cass voltou à cidade - e certamente já não era (ou não se sentia mais... ou já não davam-lhe o cargo de) "a mulher mais bonita da cidade". Bem dizer, banhou-se na lama de suas memórias e aceitou que aquelas mãos - tão masculinas, fortes e firmes - lhe percorressem cada arrepio do corpo.
Finalmente, passado tanto tempo, não se sentiu suja e aceitou sentir o que sempre tentara sentir. Continuava se machucando e talvez necessitasse disso, inexplicavelmente, para entender que ainda estava viva. Era assim: depois da surra e dos gritos, ele lhe abraçava e lhe dava carinho (quase como um pedido de desculpas) para, segundos depois, reconstruir a violência do sexo, mascar o desejo da carne.

"Tinha um pouco de cerveja na geladeira e ficamos lá sentados, conversando. E só então percebi que estava diante de uma criatura cheia de delicadeza e carinho. Que se traía sem se dar conta." - BUKOWSKI, Charles.

Cass voltou para a cidade e já nem queria saber quem tinha sido Buk. Estava ocupada demais recebendo o que sempre buscou ter: doses de disciplina.

domingo, 12 de junho de 2016

Gone...

Nunca dei muito peso para o dia dos namorados. mas esse ano, que c*ralho, dei toda a importância - carregada com todos os outros anos que deixei pra trás. Tanto nunca me importei com essa data, como dois relacionamentos meus terminaram exatamente neste dia. Exatamente.
- "Hey, Feliz dia dos namorados!"
- "Hey, bora terminar essa merda que não faz sentido nenhum mais pra ninguém.!"

Inexplicavelmente, esse ano, alguma coisa deve ter me mordido, porque algo aconteceu. Faz uma semana, pelo menos, que choro incessantemente. Fujo de certas lembranças que me abraçam e esquentam a fogueira que estala na minha frente. O que aconteceu comigo? Como consegui chegar até aqui? Como faço pra voltar?
Tudo o que consigo pensar é quão incrível a capacidade de nos deixarmos abalar por terceiros; quão impressionante a maneira como alguém como pode estragar a vida de outro alguém. Ah, que saudade de sofrer por aquele amor de escola, aquele onde todas as menininhas são apaixonadas pelo mesmo rapaz!... Se me falassem que relacionamentos podem piorar, acho que teria parado minha vida por ali mesmo. Maldito momento em que acreditei que existia algo melhor para vir depois.
Na verdade, estive de encontro com muitas situações deliciosas seguintes, mas a cada passo para frente, recebi um chute no rosto, um dedo em riste em frente ao meu nariz, xingamentos e, por vezes, algum escarro. Chega uma hora que se cai e não se quer mais levantar. Que cansa. As pessoas te puxam de volta, te empurram três casas para frente, um jogo de dados, como se incomodasse estagnar em um ponto.
Hoje acordei sem querer acordar. Hoje me olhei no espelho e não me reconheci. De novo. Sentei no chão e fiquei tentando respirar... a cada piscada, a imagem de todas as dores que me são tão reais, o beijo de cada fantasma que não consigo expulsar de dentro do meu corpo.
Hoje, pela primeira vez na minha vida, seria um dia muito importante. Aonde eu me abandonei? Por quê...? Onde eu errei? Eu... Só queria não precisar sentir. Nunca mais.


domingo, 1 de maio de 2016

Delírios convulsivos

Sabe aquele dia que tu acorda e pensa: "que merda eu ainda tô respirando?"... Talvez já faça tempo demais que. Treze anos se passaram e eu. Acordo todas as manhãs e. Escuto o tempo todo que tenho de buscar ajuda, tratamento, que não posso pensar assim. Mas eu continuo. É uma agonia tão sufocante querer sentir algo que as pessoas impõem que tu sinta. E tu nunca chega nem perto de conseguir...
Ainda tem aqueles que dizem que o segredo para não sentir a dor é esvaziar os pensamentos. Pôr para fora. Bem... Não foi uma, duas ou três vezes que eu fiz isso. Nenhuma deu certo. Tanto não deram certo como ainda aprendi a me retrair. Não contar de mim. Sabe de mim quem eu quero que saiba e, mesmo assim, sabe exatamente o que eu quero que saiba. Manipulados os comprimidos.
Uma vida quase que inteira de sufocamento. A língua entalada, a respiração difícil, as mãos que tremem, as pernas que desabam. Nunca foi tão difícil conseguir me olhar no espelho.



Às vezes me questiono se esse buraco, nem tão fundo e nem tão raso, que está à minha frente, se fui eu quem o cavou. Fico horas me questionando por qual motivo essas merdas de lágrimas ficam escorrendo se eu sequer nem dei motivo para que aparecessem. Quando percebo, o gosto do sangue já acariciou minha carne: o vinho tinto do meu ser. Por que é tão difícil respirar? Por que eu não consigo enxergar as coisas com a película repleta de flores, jasmins e céu claro? Me disseram que a gente permanece no lugar que criamos, nosso mundo encantado, que devo criar um lugar bonito para mim. E se o Éden não for nada além de um sonho de Adão enquanto dorme perto do esgoto? Tudo isso me parece tão falso, irreal, forçado.
Enquanto as pessoas se agarram na utopia de que a esperança deve permanecer em chama alta dentro de nós, eu me olho no espelho e me vejo apodrecida. A dor de quem eu sou. De quem me tornei. De quem me deixei para trás. Onde, realmente, eu estaria agora?

terça-feira, 19 de abril de 2016

Looking for angels

Quando as fibras rasgam e os ossos são mastigados, o que sobra, Gael? A pureza roubada da criança que ainda anda e afoga-se entre os litros espalhados de sangue no piso branco. O rejunte para sempre manchado. As dores dos gritos que ainda clamam por socorro. Às vezes escapa um murmúrio implorando piedade. Ninguém sonha os nossos sonhos, Gael. Só quem acorda sabe o quanto arde abrir o olho, o quão silencioso é o grito do amanhecer. A pele que jamais mudará de cor. A íris eternamente vazada. Eternamente. A barriga que nunca cresceu. A boca que não consegue mais. Pois se Alice já não se importa em não ser compreendida, acabaram-se os questionamentos e pronto.
Se olhar no espelho por quê? Comer para quê? Tentar conversar com qual propósito? Os rostos desfigurados daqueles que julgam. Julgam por quê? Gael, por quê as pessoas me julgam? Onde está o verdadeiro terror em nunca parar de doer? Uma hora a gente acostuma e nenhuma cicatriz vai ser mais profunda do que a existência do ser. Aquela única que roubou Alice do mundo de ser menina. Sempre quis ser menina. Fingir que talvez algo pudesse ser bom, mas. E entre os dedos sujos das repugnâncias que sua garganta nunca cuspiu, a imagem de si que nunca conseguiu ter. A vergonha de simplesmente nunca ter conseguido ver. Gael, e se Alice tombasse?


domingo, 27 de março de 2016

Al-furriâ

De repente, os chicotes pararam de cantar agudo na carne da menina. Pararam. Sem ela perceber. Por mais que, imaginariamente, ela ainda sinta os estalidos, e as feridas sigam abertas brotando pus e sangue, a alforria chegou. Chegou sem ela se dar por conta e, finalmente, a menina chorou por estar livre dos grilhões em que se metera. Chorou também pelas farpas que tentara arrancar e não alcançou. Sentiu com a ponta dos dedos todos os sulcos que a pele rasgada formou, igual cordilheira, no íntimo da sua alma.
É machucando o couro que ele fica rijo, forçando o limite das articulações que elas se tornam maleáveis, reiterando os machucados que se aprende que eles já nem doem tanto assim... Mas, subitamente, a menina percebeu que estava no chão. Que depois de tanto ser jogada para cima e cair, as quedas cederam o solo e já não conseguia mais olhar para o que era bonito, se é que existira, algum dia, algo que fosse. O ato de respirar tornara-se sistemático e cada vez mais escasso. A menina perdera a fala, mas a sua cabeça gritava incessantemente para que parasse, para que não tentasse mais, que já era hora de. Que não.



O Sol, que cegava os olhos e maltratava a pele da menina, se escondeu atrás das asas daquele anjo que, por muitas e muitas vezes, voltava para lhe mostrar que a esperança é tão verde, viva e brilhante quanto os olhos dele. Dessa última vez, foram as próprias asas deste anjo que envolveram a criança e a carregou para um lugar seguro, com sombras e frescor, para que todas as chagas sumissem. O sangue foi enxugado pela terra para que, dali, pudesse brotar o único sentimento de proteção que já sentira, um manto incondicional de paz e descanso. Todos os dias, a menina acorda e percebe que as cicatrizes seguem ali (e ali permanecerão), mas que estão fechando e já não há mal cheiro, podridão, asquerosidade. Incrivelmente, ao que tudo indica, a menina ainda vai conseguir se olhar no reflexo do rio e, com vestes brancas, vai se sentir linda e plena, pois o anjo nunca a abandonou.

sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

True Blood

A lâmina cega passeia pela carne fresca. Uma, duas, três, dez vezes. As primeiras gotas rubras surgem e se faz o espetáculo. A paz inexplicável de respirar, finalmente. A ardência da ferida aberta, a dificuldade de andar, as dores todas evaporadas pelos segundos seguintes. Nada é mais satisfatório do que um corte. Por uma fração de tempo, aquele sentimento de impotência, de dor ou insignificância passa e nada mais existe. É meu nirvana.
As pessoas me julgam, me xingam, imploram para que eu não faça de novo. Como se fosse um atentado eu me rasgar a pele. Só porque a pele é visível... Se vissem como está minha alma, o que fizeram comigo, o que seguem fazendo... Meu interior em chamas, rios de pus que fervem em silêncio. Um corte é só um corte.


sábado, 2 de janeiro de 2016

(Nem tão) Feliz ano novo!

Tinha o costume de escrever textos positivos antes do ano acabar. Fiz, inclusive, promessa de que nunca mais escreveria algo negativo neste sítio... Teria sido uma bela ironia se eu realmente não tivesse tentado duramente cumprir esse algo impossível.
Neste ano de 2015, escrevi menos do que eu gostaria aqui no blog. Um dos motivos foi a minha própria frustração em perceber que todas as minhas notas poéticas e a romantização dos meus problemas simplesmente sumiram da minha cabeça e, agora, minha forma de escrever acabou se transformando em algo cru, direto, feio, resumido a uma folha simples de um diário que eu sempre me envergonhei de manter.
Comecei o ano de 2015 almejando muita coisa boa e com um foco impressionante, mas em menos de um mês eu levei o meu primeiro nocaute. Não sei exatamente como conseguir levantar. Nego-me a proclamar uma lista de agradecimentos aos que me ajudaram a seguir em frente pelo simples motivo de que eu sou o problema nos meus problemas. Sei que tenho muitos amigos e que eles gostam e se importam comigo, mas eu aprendi com a vida que tudo é efêmero: nada jamais vai permanecer para sempre. Não é que eu não me importe com quem se importa comigo, eu apenas sei que em algum momento eu vou deixar de importar e, de repente, tudo aquilo que estava muito próximo e parecia ser tão importante passa a ser distante, nada além de uma memória.
Deste ano que passou, eu assumi que tenho vergonha de mim. Que não me orgulho de quem eu sou. Que não sei lidar com quem eu sou e que fujo disso o tempo inteiro. E quando começou o ano novo, pela primeira vez em vinte e quatro anos, eu não estava feliz e almejando realizações. Pela primeira vez, eu me vi mais distante ainda de todo esse mundo que eu carrego como um fardo nos meus ombros e que estou cada vez mais cansada de carregar. Percebi que estou entupida de perguntas e que não sei responder nenhuma mais. Que não sei como ir adiante, como fechar buracos, que já foi raspada a última colherada de ânimo do pote para conseguir levantar da cama, respirar e começar o dia. Todos os dias.
Certo dia me perguntaram o que eu diria a mim mesma no início do ano passado se eu pudesse me dar um recado após já ter vivido tudo o que vivi. "Desiste agora" foi o que pensei. Talvez tivesse doído menos. Talvez eu tivesse um pouquinho mais de...
2016 deverá ser um ano maravilhoso se depender dos desejos escritos nas redes sociais. Interessante que em nenhum destes desejos eu me encontrei. Nenhum deles fez sentido. Foi então que caiu a ficha: a pouca luz que eu já tinha, ela está quase apagando.