sexta-feira, 31 de outubro de 2014

O aroma da minha insônia

O aroma de café na memória me fez levantar. E quando vi ele e ela deitados, percebi que, mesmo jamais tendo sido três, era o que eu deveria fazer. Ao aquecer a água, já sabia que nada adoçaria melhor aquele momento do que o sono profundo deles e que o café deveria ser amargo mesmo, para fazer sorrir o bom dia.
Fiquei deitada muito tempo sem querer estar. Dormir tem sido algo tão difícil e me dói... Não exatamente por ter algo que me incomode, mas eu simplesmente já não consigo mais. Ou não vejo mais razão. Tanta coisa pra fazer, pra correr atrás, o horário que não dá nunca mais para perder...
Se bem que, só pelo fato de negar várias supostas preocupações, elas já existem e estão ali, em mim. Muita chuva deve chover de verdade – sem ser só o barulho reproduzido em caixas de som. Talvez seja essa espera, que chova logo, para que eu possa abrir arco-íris em meu ventre, assim como ele abre em si, toda vez que sorri para mim.
Era escuro, e mesmo de olhos fechados, eu sabia que lá estavam, brilhantes e castanhos, os olhos dele repousando na minha tez. Senti minha palidez fazendo-se rubra enquanto aguardava os sonhos que nunca vieram. Aqueles sonhos ruins que fizeram Beatrice estremecer há tantos anos...
Entendi hoje que deixei de ser Alice. Acabaram-se as ondas no cabelo e o mar dos olhos. Ninguém pode se esconder atrás de uma máscara eternamente. Ou melhor, provavelmente possa, mas não deveria. E eu não devo também! Eu não sou mais Alice, embora siga sendo uma menina de riso fácil e dores escondidas. Assim como todos. Todos temos essas águas que não derramam em cachoeira. E essas águas tantas, eu arranquei da minha retina e do meu verbo. O verbo faz-se luz.



Olhando as paredes brancas, o café escuro entrou na xícara. E, em valsa, percebi que sou mais leve que uma pluma, de repente. “Não mais que de repente”.

quinta-feira, 30 de outubro de 2014

Voila le portrait sans retouche

Piaf aimait le boxer et a consacrée des oeuvres formidables aux memoires qu'il lui a ofert. Je ne me trouve pas comme Mademoiselle chanteuse, mais, plus précisement, comme une mademoiselle qui aime et, comme ça, j'aimerais bien dire des petits mots. Peut-être une petite lêtre (?) ...



À Toi.

Tu vois, les bagages des mes voyages, j'ai oubliée d'aporter avec moi chez toi. C'est trop simples: mes rêves ont une nouvelle couleur, un goût de caramel unique. Je suis remplie et je suis heureuse! Tout ce que je veux, maintenant, c'est commencer un bagage differént, avec toi. Un bagage pour rester. Prend ma main et reste. Reste ici comme j'ai restée.
C'est pas vraiment un jeux d'enfant, mais on est cap. Je le sais (et toi aussi). On est cap pour accepter la bonneur, le soin, les mots d'amour. On est cap pour joeur, dancer et chanter une éternité de scènes qui sont encore à venir.
Tout bas, tu m'a écoutée en train de chanter un extrait d'une mélodie très connue. Une musique avec tant d'expression et sens. Allons-y! Tu sais bien que tes yeux sont "des yeux qui font baisser les miens", et que mon rire avec toi c'est "un rire qui se perd sur sa bouche". Et, bon, "voila le portrait sans retouche, de l'homme auquel j'appartiens." Aussi, toutes tes traces sont coincé dans ma peau. J'attache, tout les jours, la façon particulière et énigmatique que tu me regarde - avec tant éclat et brillance.
"Oui". C'est mon premier mot de tout ce monde qui nous attend.

Je t'aime.
T'on ange.

"Alors je sens dans moi mon coeur qui bat".

sábado, 18 de outubro de 2014

A Causa Secreta

"(...) os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero."

Ela transbordou em chuva. Tempestade.
Já não sabia se sentia raiva dele ou de si. Já não sabia se aquilo tudo voltaria a fazer algum tipo de sentido naquela montanha-russa sem trava de segurança. E as primeiras palavras que falou para ele foram consumidas por soluços e afogados em rancor. E o desespero dele ficou embebido no silêncio, como se pudesse transmitir calma e serenidade. E ela quis bater no peito dele até ele abraçar ela e mentir dizendo que ela teve só um sonho ruim.
Mas ela estava cansada de mentiras, de tentativas inexplicáveis, de fugas sem sentido. E ele precisava se encarar e tentar adivinhar o que era melhor para ele, sem ver ela triste. Ele não entendia que ela sempre fugia e, pela primeira vez, ela queria ficar. Ela não entendia que ele já tinha ficado tempo demais.

De repente, chegou o último dia. O abraço que deu nela, de despedida, foi recheado de um ne-sais-pas-quoi muito especial. Talvez tenha sido só um abraço, mas ela quis dar um significado para aquilo. E os beijos que vieram depois tiveram um gosto único. Enquanto passava os dedos pela barba dele, conseguia pensar apenas no quão lindo ele é, o quanto o queria bem, o quanto já sentia saudades... E ele perguntou:
- A gente ainda vai se ver, né?
Quando saiu de lá, não sentiu nada. Não estava triste, nem estava contente. Não sentia nenhum vazio, mas também não se sentia repleta. De repente, atravessados os portões daquele prédio, parou de andar e, sem olhar pra trás, disse em voz alta: "Agora preciso compreender que tu não és mais meu".

Assim, tudo findo, iniciou-se um novo começo. As esperanças de dar certo se confundiram com a fumaça do cigarro que ela fumou e extinguiu no ar escuro da noite. Acabou o foco e sumiu o rumo. Quando chegar o dia "D", talvez ela já não queira vê-lo, nem tocá-lo. Talvez ele queira ela de volta...
Ela, que já transformava seu nome, descobriu-se réptil novamente. Já não sabia como ele se sentia e nem quis adivinhar. Acabou. Acabou!
Acabou e foi melhor pensar dessa forma, tatuando em si, na alma, para não esquecer. Porque é melhor não criar expectativas e ser surpreendido, do que abraçá-las e frustar.