terça-feira, 28 de setembro de 2021

O bolero

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me.

Minha mente respira os goles de vinho e revive o teu sorriso contido. Aquele sol tão lindo brilhando no canto do teu olho enquanto Dylan cantava para nós. Eu no teu colo, entregue e envergonhada, vivendo o  melhor que minha adolescência-adulta tinha para me oferecer.

I'm not sleepy and there is no place I'm going to.

Depois já era noite e, sentados nos bancos de concreto, nos deixamos levar. Teu beijo tão envolvente quanto todos os teus segredos e eu querendo descobrir cada um, abrir cada caixa, ser tua a cada instante.

Hey! Mr. Tambourine Man, play a song for me.

E de novo era dia. Como nos divertimos! Como rimos e trocamos nossas breves sabedorias de gente nova querendo ser madura, de um mundo cheio de fogos de artifício sem qualquer som. De novo, a tua boca na minha boca e os livros nos assistiram desfrutar de um amor que me embebeda até hoje.

In the jingle jangle morning I'll come following you.

E tu foi embora. A estação de trem tão perto de mim. Eu fui embora, mas te beijei uma última vez. E esse beijo ressona meu âmago, faz o vinho ferver e a saudade, que habita em mim, dói da maneira mais linda que já senti.




quinta-feira, 10 de junho de 2021

Another Life - Motionless In White

 If I can't let you go will darkness divide?

For the fiction of love is the truth of our lies
We were playing for keeps, but we both knew the cost
Now the only way out's in your heart-shaped box

But I hate that it seemed you were never enough
We were broken and bleeding but never gave up
And I hate that I made you the enemy
And I hate that your heart was the casualty
Now I hate that I need you

As we rest here alone like notes on a page
The finest to compose could not play our pain
With a candle through time I can still see your ghost
But I can't close my eyes, for it
For it is there where you haunt me most
Where you haunt me most

I hate that it seemed you were never enough
We were broken and bleeding but never gave up
And I hope that I sing through your memory
As we echo through time in the melody
Now I hate that I need you

And I hear you now when you said
It hurt, but it had to fall, fall apart to work
As I see you now in what's left of me
Is it too late to plead insanity?

'Cause I hate that It seemed you were never enough
You were broken and bleeding in the name of love
And I hope that we meet in another life
I hope that we meet in another life
I don't hate that I need you
I don't hate that I need you
I don't hate that I need you



quinta-feira, 22 de abril de 2021

Amanhã vai doer um pouco menos

   Sabe que eu li uma mensagem que dizia "Amanhã vai doer um pouco menos" e pensei em ti. Em nós. No que estamos passando. E vou te dizer: essa é a maior bobagem que eu já li. No 'amanhã' continua doendo e têm vezes que dói ainda mais.

   Sei lá. Parece que a gente tem que acreditar nessas bobagens um pouco pra conseguir respirar. Tu tens conseguido respirar? Eu não sei exatamente se eu tenho conseguido. Parece que eu estou o tempo todo no fundo de uma piscina tentando encontrar a superfície. Essa agonia me consome. Respiro fundo, mas a calmaria não vem. O ar não vem. A dor não passa.

   Te disse outro dia que "montanhas-russas só são legais de vez em quando", lembra? Mas a falta de montanhas-russas também destrói - ao menos para quem já andou em uma. Acho que dá pra culpar a pandemia um pouco, mas o quanto eu ando me sentido perdida, isso não é culpa da pandemia. É falta de conseguir respirar, é excesso de pensar que "amanhã vai doer um pouco menos".



segunda-feira, 1 de março de 2021

O fundo

   Os trens partiram e eu fiquei presa na estação. Ele se libertou de mim, embora eu siga com os grilhões nos pés me impossibilitando de voar. O triste é que eu nem quero voar... Eu só queria parar de sentir.

   Perdi as forças para continuar. Não consigo entrar no trem; não consigo me atirar nos trilhos. Essa inércia me flagela, me rasga, me arrebenta. Eu, que não tinha nada, perdi tudo. E agora me resta viver uma vida que eu não quero, por uma escolha que eu fiz. Me resta mastigar e engolir os cacos de vidro de esperança que eu tinha. Quebrar os dentes. Serrar a garganta. Perfurar.

   Sobrou tão pouco de mim.




sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

The sound of silence

   É sexta-feira e sextas-feiras me massacram. Afundam meu crânio em devaneios e incertezas. Falta-me o ar e parece que está tudo bem com isso pelo lado de lá. Revivo, terrivelmente, cada passo que dei em nossa jornada, cada saltitante movimento... Ainda recorda-te? Ou eu já sumi de tua memória? Eu sumi ou tu me fizeste desaparecer?

   Sinto que o meu dia-a-dia se arrasta para cada vez mais distante de ti, embora cada pisada que eu dê, firme, em solo, seja crendo que em breve a realidade que vivo deixará de existir e se tornará aqueles dias completamente inquietantes e verdadeiramente felizes que passei ao teu lado e que sonho noite após noite, incansavelmente.

    Como pode tudo ter mudado? Tu não me sentes mais? Não me amas mais? Fui fogo de palha em face à tua grande labareda?... Mas eu persisto, igual uma assombração que te inquieta, te irrita, incomoda, machuca. Eu persisto, mesmo me ferindo e dilacerando. Porque dolorido de verdade é o teu silêncio face à minha insistência em te querer pelo menos mais uma única vez.