quarta-feira, 9 de julho de 2014

Deixa? Tic-tac.

Ainda não descobri que rosto tem a minha liberdade. Eu sei que ela me dói e faz chorar às vezes. Essa busca insaciável pelo bem-estar, pela paz, pela cicatrização do peito aberto... Eu cansei. Que se dane! Talvez custe curar os cortes, mas, ao menos, eu paro de perder tempo.

(Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.)

A ferida aberta me diz: "Calma! Segura um pouco...". Em simultâneo momento, os tecidos inteiros urram: "Deixa machucar!".

(Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.)

Se os peixes pararem de nadar, as águas não vão parar de correr. Se eu dormir uma hora a mais, o dia já vai estar quente e vou ter perdido o arrebol da segunda-feira...

(Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.)



Quero me enrolar na tua língua, ter espaço entre os teus dedos, ser a responsável pelo aparecer da covinha na tua bochecha quando sorris. Quero beijar tuas sardas, me embebedar no mesclado alcoólico dos teus olhos, redesenhar em mim todas tuas tatuagens. Quero ser o pronome possessivo que os teus lábios expelem, ser explorada em cada arrepio, ser teu par em todas as danças. Deixa que eu largue de ser cigana e me transforme na tua chave, teu perfume, tua cama? Deixa eu deitar nos teus sonhos?

quarta-feira, 2 de julho de 2014

As matizes dos teus olhos

Acostumada com a imagem pálida que a vida pintou em sua tez, através das cicatrizes, Alice abraçou as cores que tinha (e que, talvez, ainda tenha) na véspera do primeiro dia de inverno. Aceitou, com facilidade, todos os sorrisos que podia dar, e os ofereceu com tanta calma quanto os sonhos que a beijaram naquela noite, sem se recordar exatamente.
Igual há dois anos, misteriosamente, o inverno amanheceu ensolarado! Pela primeira vez, as luzes do dia não lhe arderam o olho e pudera contemplar cada sarda daquele outro rosto para, só assim, transbordar na paz que buscara. As matizes esverdeadas dos olhos de Lestat sorriram o silêncio do bem-estar.
No momento em que a fumaça bailava do âmago às nuvens claras, ela percebeu que era a primeira vez que o via de dia. Sua barba crescera tanto em tão poucas horas... Era a primeira vez que Alice aceitou que aquilo tudo era diferente, mesmo não devendo ser.




Tes couleurs léchent ma rétine, même quand je suis avec mes yeux fermés.