segunda-feira, 1 de março de 2021

O fundo

   Os trens partiram e eu fiquei presa na estação. Ele se libertou de mim, embora eu siga com os grilhões nos pés me impossibilitando de voar. O triste é que eu nem quero voar... Eu só queria parar de sentir.

   Perdi as forças para continuar. Não consigo entrar no trem; não consigo me atirar nos trilhos. Essa inércia me flagela, me rasga, me arrebenta. Eu, que não tinha nada, perdi tudo. E agora me resta viver uma vida que eu não quero, por uma escolha que eu fiz. Me resta mastigar e engolir os cacos de vidro de esperança que eu tinha. Quebrar os dentes. Serrar a garganta. Perfurar.

   Sobrou tão pouco de mim.