quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

De: Para:

Quiçá venha a ser um pouco enjoativo, aos olhos de quem me lê, a percepção de que derramo essa alegria incessante em meus textos - situação que, outrora, era inexistente e, há algum tempo, consumou-se assídua. Contudo, sinto que preciso expôr esse mundo de novidades e tantas cores! Tantas, tantas cores... A verdade é que a tristeza encanta e seduz, mas apenas quem já sentiu a felicidade em sua mais pura essência poderá compreender as palavras que digo, o sorriso que carrego, a calmaria plena nesse arrebol de fim de tarde.

Eu já não vejo razão em falar dos meus olhos, e do quanto eles vazaram, enquanto apenas desejo exprimir o quanto os olhos dele, pequenos e expressivos, me convidam a ficar dentro de sua íris pela imensidão de tempo que o mar dos meus não consegue contar. E mesmo quando minhas pálpebras tombam, independentemente se em amanhecer, para desfrutar de sonhos em seu sono, ou pelo singelo gesto de piscar, lá estão, ambos - âmbar/castanho/verde/multicolores - a me enlaçar contra seu peito.
Talvez tudo tenha acontecido assim: um jogo de pupilas; porém, foi no sorriso dele que depositei meu maior encanto. Uma desordem doce de desenhos com traço firme. Desesperadamente intocável e absurdamente tão próximo...

A cada segundo em que ele me mostrava quem ele é, por quem tinha sido, enquanto estávamos escondidos na negritude das estrelas do inverno, fui aceitando aquele lugar no peito dele que ele me oferecia querendo e sem querer. Fui aceitando e não me dispus a abandonar. Em tantas ondas fomos mar e espuma, e o cais surgiu sem muito esforço. Leviatã mostrou suas escamas, porém não nos deixou ofuscar pelo seu brilho doente. Assim, quando pela primeira vez ele me cedeu a mão, eu fui dele e dele permaneci. Nele permaneci.



Dentre todas as opções deste mundo, mesmo assim, eu ainda te escolheria. Todos os dias.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

She is so blue...

Menina Alice olhou pela janela. Há tantos anos, ela vem olhando pela janela e imaginando como é tocar aquele horizonte... tão longe e colorido. Seguir para onde suas pernas guiarem e apenas parar quando vier o cansaço.

- Diz que volta?
- Volto?
- Que volta e me leva embora. Para qualquer lugar. Para longe. Longe daqui.
- Jura?
- "Longe é o lugar onde a gente pode ser feliz de verdade." Tão fácil, né?
- Acho que tu deveria acreditar. Comigo funcionou.

Enquanto escurecia, a gente descia a rua. Em silêncio. Um silêncio tão nosso, mas que era só dele. Os hálitos de vinho branco. A despedida que viria. Tantas despedidas. Todas com o mesmo significado. O mesmo peso.

- Não temos fotos juntos. Não necessariamente de rostos, sabe? Mas fotos... Fotos de qualquer coisa, em que estivemos presentes. Juntos. Não temos.
- "Melhor lugar para se guardar um vinho é na memória.". Acho que se aplica aqui.
- Vinho branco?
- Haha

Finalmente tombou a noite e a menina Alice estava, mais uma vez, na luz sintética do vagão do trem. O barulho metálico. As bochechas ardidas de sorrisos, as lágrimas grossas ardendo os olhos e o peito inflamado. Carregava todos os últimos dois anos de brigas, dramas, conversas e risadas.
Os seres humanos têm o dom de elevar aquilo de mais intenso que há em suas relações. Ravel ensinou Alice a ser menina. Eternamente.


- Adoro o modo como tu te entrega ao que tu gosta. Isso me faz eu te admirar muito.

Finding a light in a world of ruin
Starting to dance when the earth is caving in

We're ready to begin

quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Plenitude

Lembrei do dia que eu fui embora da casa dele - que "deveria ter sido" o último dia (coloquei entre aspas justamente porque nunca deveria ter sido, assim como não veio a ser). Relembrei o ar gelado mordiscando as minhas bochechas logo que coloquei o pé na rua, bem como o momento em que parei no meio da calçada para dizer em voz alta que eu precisava entender que ele não era mais meu. (...) E lembrei disso tudo para poder me encontrar, minutos antes, passando meus dedos por entre os cabelos dele enquanto observava cada traço daquele rosto. Dentro de mim, eu explodia. A convicção de que a palavra "amor" não era apenas um jargão da linguagem juvenil.

Numa dessas noites castigantes de verão, fomos tecendo histórias. Em cada ponto, lá estava um pouquinho de mim. Um pouquinho dele. Um entrelaçamento dos nossos íntimos. E exatamente aonde me deparei com um breve nó, segurei um choro que não tardou. Mesmo sem me ver, ele sabia que eu chovia. Cada lágrima era uma gota no copo que transborda.
Eu choro o tempo todo, mas nem sempre significa que é algo ruim. Naquela noite, eu amadureci tantos anos quanto não achei que pudesse. Quando amanheceu, eu estava plena.

A lembrança desse homem veio tão forte em mim que eu pude sentir os meus dedos passeando pelos cabelos escuros dele. Fechei os meus olhos e vi o olhar distante e inteligente dele passeando preocupado naquele ponto da minha perna. O nariz perfeitamente desenhado e a tez franzida. As cores... 
E em meio a tanta saudade, aceitei que não devo tentar entender. Apenas, sentir.



Ps: as pessoas se perdem muito por aí e nós não: nós estamos no lugar certo.