sexta-feira, 29 de julho de 2016

Moça, sai da sacada

Passam os dias, os meses e os anos... e ela continua se sentindo cada vez mais afundada na criação que é menina Alice. A menina que esconde de si as facas da casa para que elas não estejam próximas quando. Que chora quando ninguém está vendo, por não querer explicar o quanto está cansada de fingir que gosta de si própria.
Em rodas de amigos, quando surge o assunto, estampa em seu rosto o sorriso amarelo costumeiro de quem finge que concorda. Ninguém entende. "Por que a pessoa faz isso consigo? Como pode? Eu não entendo por que disso. Que egoísmo! Ela não pensou na família antes de?" Ninguém entende.
A parte mais difícil talvez seja fingir concordar... enquanto, na realidade, a resposta de todos os pontos de interrogação estejam claros em sua frente, na ponta de sua língua, no último impulso antes de.
Será que existe como deixar de entender? Agora que Alice já conhece a fenda, existe maneira de preenchê-la definitivamente? É tão injusto as pessoas não sentirem. Talvez quem sinta seja mesmo diferente, seja "doente-louco-incurável".
Acontece que quanto mais Alice finge, mais cansada de si ela fica. Quanto mais esfrega, mais encardida.



Moço, ninguém é de ferro
Somos programados pra cair.

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