sábado, 5 de abril de 2014

Asas negras

Por tudo o que ele denominou escuridão eu só enxerguei brilho e luz. Todos os sonhos escondidos nas palavras não ditas, embora expressas, eu compreendi. Eu compreendi todo o sentido de eu estar ali. E não era apenas o meu mar ou as ondas mansas do que um dia foi pesadelo que me trouxeram presente.
Todas as cores, que eram cinzas, flutuaram sobre nós, enquanto que as tintas vivas e frescas escorriam pelos sorrisos brancos. Brancos por serem puros e sinceros, sem o amarelado predominante das mentiras, farsas e podridão. A infinitude do vazio foi-se preenchendo pelo silêncio entupido de sons não expressados e murmúrios não proclamados. O mel vazou dos meus olhos atingindo os lábios dele.

E, assim, embora não extintas, adormeceram as dores e repousou a paz em meu ventre.

Um comentário:

  1. E assim, embora não extintas, adormeceram as dores e repousou a paz no ventre dela. Se ela soubesse como isso acalmava o espírito inquieto dele. Repousou a paz no ventre dela. Se ela soubesse como isso representava a totalidade dos sonhos que ele sonhava. Paz. Ventre. Ela. Desde muito antes, por coisas outras, em olhos outros que não eram de mar, e sim de deserto traiçoeiro e seco, ele deixou a paz enterrada em dunas de memórias e, por não ter consigo a paz dentro do peito, sentiu e viu seus próprios riachos secarem, aos poucos, sendo drenados para dentro da escuridão. E agora, tantos oceanos de tempo depois, agora que ele próprio virou um deserto e se perdeu na própria imensidão de suas areias, ela vem, com o mar nos olhos, a paz debaixo da pele, profunda, indecifrável, e faz chover sorriso no céu cinza, acima as dunas de lembrança.

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