quinta-feira, 10 de abril de 2014

A Janela

A janela protagonizou o enlace do negror selvagem da noite com o interior dos nossos âmagos. O céu marinho carregava, esculpido, as gordas nuvens cinzas e ameaçava o mundo com a força de maciças gotas de chuva. Estas, agressivas, cortavam em carne a voz da moça que sempre cantou as ondas invisíveis e tão características do vento.
O sofá moveu-se para melhor assistir o espetacular filme que a natureza ofereceu. Os vidros escancarados trouxeram a escuridão para dentro da nossa escuridão, que iluminava-se com as luzes dos relâmpagos. Nosso silêncio ficou envolto à fumaça das canecas de chá e incessantes clarões desenhavam-se, desnudos, frente às nossas pupilas, rasgando a memória em uma fotografia sinestésica.
Naquela noite, frente à janela, desaguaram os nossos segredos - enquanto o céu manteve o seu.

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