A janela
protagonizou o enlace do negror selvagem da noite com o interior dos
nossos âmagos. O céu marinho carregava, esculpido, as gordas nuvens
cinzas e ameaçava o mundo com a força de maciças gotas de chuva.
Estas, agressivas, cortavam em carne a voz da moça que sempre cantou
as ondas invisíveis e tão características do vento.
O sofá
moveu-se para melhor assistir o espetacular filme que a natureza
ofereceu. Os vidros escancarados trouxeram a escuridão para dentro da
nossa escuridão, que iluminava-se com as luzes dos relâmpagos. Nosso silêncio
ficou envolto à fumaça das canecas de chá e incessantes clarões desenhavam-se, desnudos, frente às nossas pupilas,
rasgando a memória em uma fotografia sinestésica.
Naquela
noite, frente à janela, desaguaram os nossos segredos - enquanto o
céu manteve o seu.
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