terça-feira, 24 de outubro de 2017

ETIM lat.medv. capitulare 'fazer um pacto'

   Nada nos mantém tão rígidos, em pé, quanto o ódio. O ódio moveu cada onda quebrada do mar dos meus olhos até que, enfim, em mais uma ressaca, Capitu transforma a rigidez em uma simbólica indiferença distante. As risadas que não se ouvem mais, o som que abafou, o copo que quebrou, os sonhos que deixaram de existir. A vida continuou, Bentinho... Talvez os "olhos de cigana oblíqua e dissimulada" não tenham influenciado as danças secretas que a fumaça do cigarro não faz mais. Mas aqui jaz a ruptura.
   Capitulo e renuncio.

"- É pecado sonhar?
- Não, Capitu. Nunca foi.
- Então por que essa divindade nos dá golpes tão fortes de realidade e parte nossos sonhos?
- Divindade não destrói sonhos, Capitu. Somos nós que ficamos esperando, ao invés de fazer acontecer."
("Dom Casmurro" - Machado de Assis)

   Aquelas dores de insônia não existirão mais, contudo estas a ti serão entregues diretamente pelos fantasmas dos sonhos. As pétalas murchas recriar-se-ão novas a cada voo impossível do pássaro metálico pelos ares congelados do teu inferno recheado de pessoas suadas nos lençóis que nunca mais serão limpos. Mais do mesmo. Eternamente.

   As lagartixas que se escondem pelos buracos da casa são só minhas agora e descem pela minha coxa direita em tinta e movimento até a podridão irrestrita de minha carne. Respirar fundo no âmago da liberdade de algo que nunca mais irá acontecer. Livre! Pela última vez, the hiss of the train.


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