Daqui dois dias serão onze anos. Onze anos da tentativa frustrada de não rememorar diariamente a madrugada de 1º de outubro de 2006 e outras cenas. Dos poucos minutos que pareceram durar tantas horas. Das dores nas costas e nas coxas da força que fiz para afastar o que eu não consegui. Dos gritos que o eco engoliu. O "não" pintado eternamente no sangue seco do rejunte do banheiro.
Tudo o que eu sempre tive medo aconteceu. Tudo o que eu ainda tenho medo continua acontecendo repetidamente em imagens nítidas e escuras em minha cabeça.
Francamente, ainda não caiu a ficha. Não entendo. Talvez nunca vá. Às vezes parece que tudo não passou de uma mentira, um sonho ruim de muitas noites atrás... E eu nunca consegui não me culpar. "Ela pediu por isso", eles disseram. Mas será que eu pedi mesmo? "Não há nada o que fazer", disse o policial, "era teu afeto". Namorados dão apenas amor às suas meninas, não é? Então talvez seja culpa minha... talvez eu ainda sofra, onze anos depois, porque o pecado é meu e revivê-lo eternamente é a pena correta na Terra. Será mesmo que a culpa é minha?
E se eu não tivesse ido para aquele lugar aquela noite? E se eu não tivesse conversado com ele uns dias depois? E se eu não tivesse sido tão fraca? E se... alguém tivesse escutado eu pedindo para parar?
Por que eu?