Se as coisas fossem tão simples quanto tomar um banho para retirar a sujeira do corpo, eu não estaria aqui, chorando minha impotência de ser como sou. Cada gota que pinga e escorre traz à flor da pele todas as existências que eu não quis.
É irritantemente repetitivo e desgastante a vontade de abrir os olhos. Esse eterno sentir machucado. Têm vezes que respirar dói e que levantar da cama torna-se impossível. Minha pele esculpe cicatrizes todas as vezes que minha cabeça sufoca. Pensar dói. Relembrar arde. Sangra. Impotência.
Sentir é relativo, dizem. Cada um sente a dor de alguma forma e lida com ela assim. As pessoas dizem que sou forte. Eu me sinto fraca. Acho que ninguém entende... Ninguém nunca vai entender.
Todas as noites os olhos fecham e aquele velho filme de horrores transpassa pela minha retina. O grito sufoca. Jamais vão curar. As cicatrizes. Jamais vão. Até quando?
Por que eu tenho que viver essa vida?
De todas as coisas que eram e que não
ResponderExcluirDe todos os cortes a fogo e facão
De tantas mentiras e apertos de mão
De sobras de sonhos sem pé e sem chão.
Se somos só carne e só alma - em vão
Ou se somos poeira ao vento - oração
Nosso sangue dilui o delírio - ilusão
Dentre todas as coisas que eram e que não.
Ainda lembro da noite de raio e trovão
Do teu corpo brilhando suado no chão
Do teu rosto de anjo na luz do clarão
Do demônio em teus olhos de mar - tentação.
A loucura me sangra de raiva - tesão
A saudade no escuro rugindo - leão
Dentre todas as coisas que eram e que não
Teu gozo é convite pra beijo - lambida - arranhão.
De todo o passado que eu lamberia igual cão
De reminiscências - piano - francês - violão
Teu trono aqui dentro tão forte no meu coração
A Petite ainda dorme em tons de segredo e violação.
Que dueto... Bravo!
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