terça-feira, 25 de abril de 2017

Remo

   Às vezes sinto-me burra. Mas não burra no sentido de.
  Meu pai costumava me dizer: "Existe o conhecimento. Parte do conhecimento está nos livros. Parte do conhecimento dos livros é absorvido pelos professores. Parte do que é absorvido pelos professores é passado aos alunos. Parte do que é passado aos alunos, estes realmente fixam". Com isso, aprendi a mastigar todos os dias um pouco de sentimento de impotência, de fraqueza e a certeza de que eu nunca seria boa o suficiente em alguma coisa. O dia que eu confirmei esse sentimento foi quando fui a uma biblioteca: sentei-me em frente às estantes de literatura francesa e deparei-me que tantos e tantos livros... e a vida é tão curta! Jamais teria eu tempo para ler tudo aquilo. Para absorver a parte da parte da parte do conhecimento...
   Acho que a vida é mais ou menos isso: uma insegurança por nunca saber nada. Pensamos sempre estarmos agindo da melhor maneira e nunca é. Nunca é suficiente. Nunca vai ser. Nunca será satisfatório para nós, nem aos outros. Nunca! Aquela sensação eterna de ressaca - eu tinha certeza que beber aquelas coisas todas me deixaria feliz, mas.
   Às vezes sinto-me burra. Parece que nunca vou deixar de ser. Parece que quanto mais se rema, mais impossível é andar uma casa à frente. Sempre há uma onda que surge e nos derruba duas casas para trás. Quantas ondas são necessárias para que tudo pare? Para desistir? Para que se perceba que nunca. Nunca! Quanto tempo ainda?


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