sábado, 29 de novembro de 2014

Os quadros da casa - parte III

Tão decidida a manter aquela parede em branco, respirando vazia frente aos tumultos desorganizados da poluição das outras paredes do quarto que possessivamente chamo de meu, deparei-me em contradição. De Lestat, à parte de todas as imaterialidades que me concede, ganhei um quadro e eternos sorrisos que vão se construindo e mantendo em meus lábios.
O quadro é enorme e tão lindo, em preto e branco, com um breve detalhe em vermelho - uma explosão de cor, sentimento, paixão e raiva em meio à paisagem tão conhecida pela minha íris. Chove em Paris e cada traço me empurra cada vez mais dentro daquilo que fui deliciosamente obrigada a viver e arrancada da construção do meu mundo.
Eu acreditei que a parede respirava, sozinha e nua, quando, em meio àquele espaço, pus minha ambição em molduras. Esse homem entendeu meus sonhos quando, em silêncio, eu respirei a vontade de voltar às lembranças que eram minhas. A infância. Os melhores sentimentos. O quadro fez-se janela à menina do quadro ao lado, na parede comunicante, que observa um lugar onde eu consigo respirar de verdade. Lá, eu fui. E eu voltarei - para ficar. Em mim.


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