quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Borboletas

Era domingo e a menina estava esperando, sem muita pressa - nem muita vontade, a vinda da segunda-feira. Já era tarde da noite, também. Deveria estar dormindo! O dia seguinte seria longo e possivelmente não agradável. Um barulhinho conhecido rasgou o silêncio debaixo da cama: havia perdido o celular e acabara de encontrá-lo por um simples acaso. Alguém telefonava. Alguém lhe desejava falar.
Ao ver de quem se tratava, a menina estranhou. Por milésimos de segundo, preocupou-se por pensar que algo ruim havia acontecido (ah!, essa mania que o ser humano tem de sempre esperar o pior...) e por outros milésimos de segundo, foi consumida por uma agonia: demorava demais para atender aquela ligação advinda daquele homem que, por algum motivo, queria ouvir sua voz.
Quando atendeu, o "oi" que surgiu do outro lado da linha lhe trouxe uma alegria inexplicável. Possivelmente aquela bobagem que escutamos sobre as borboletas no estômago...
- Liguei para dizer-te que faz uns minutos que estou deitado em minha cama e estou pensando em ti. Liguei para dizer-te que estou com saudades.
Aqueceu. Enrubesceu. Explodiu para fora de si todas aquelas palavras que não acreditava que ouvia. Não lembro exatamente o que a menina respondeu naquele momento, mas ela soube valorizar aquela atitude da melhor forma que poderia. Abraçou aquele homem em pensamento e refez em sua retina cada traço da pele dele. Desejou correr em direção àquela voz, mas era tarde... Era tarde da noite, apenas. Faria tudo para vê-lo assim que amanhecesse. E fez.
A menina fez, todos os dias que vieram na sequência, o que suas mãos pequenas conseguiam fazer. E enquanto descobria que o amava, descobria que se amava também.
Todas as chagas se fecharam. E as poucas e pequenas que permanecem abertas, ele as vem fechando com toda sua capacidade de oferecer sorrisos. Desde esse dia, ela o aceitou nela e ele, mesmo tendo tido alguns princípios de fuga, carregou-a junto a ele. Desde esse dia, eu te amo dentro de mim. Aceitei em meu ventre tantas borboletas quanto poderiam caber. Romperam os casulos e disse "sim" a uma invasão de tantas cores  quanto minha íris  nunca pensou ter capacidade de conseguir enxergar.


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