sábado, 7 de junho de 2014

Algum tipo de ponto.

As faces coradas gritavam desesperadamente a expressão de arrependimento. Embora as palavras não viessem, e o silêncio dominasse aquele quarto, nossos olhos se comunicavam: os dele me diziam que eu não devia... me questionavam por que eu era... E os meus respondiam, desculpando-se, que eu não... que eu me vestia de culpas...
Lá fora, a negritude riscada da noite que chove. Dentro de mim, algo havia trincado, mas eu não conseguia ver onde.
A mudez dos corpos, envergonhados por terem se divertido extinguindo a saudade, acabou quando minha voz apresentou-se:
- Teu rosto está horrível!
Enquanto eu segurava o desespero entalado na goela, ele me segurou pelos ombros, na tentativa falsa de me fazer entender que estava tudo bem.
- Não venho mais aqui.
Em insistência, engoli o que me rasgava e ele me abraçou, murmurando um "não" abafado. Parte dele me queria ali e parte dele queria que eu nunca tivesse aparecido.
Na porta da minha casa, usou de palavras para me tranquilizar - as mesmas que não dissera no momento em que nossos olhos conversaram. Uma a uma, iam se apresentando em tons mentirosos, unindo-se àquilo que eu sentia. E toda a alegria que me inundara, por ter aceitado aquela escuridão na minha pele, se transformou em uma culpa que não era minha, mas que eu carreguei com o aceite de todas as chagas embutidas.
O meu corpo tinha o cheiro dele e minha cama estava gelada. Mais uma vez, eu dormia só, embora fosse a primeira vez que arrependida por ter colocado tristeza nos olhos negros daquele homem. Ele voltou para a casa dele e também dormiria sozinho, enquanto o quarto mantinha o calor de nossa vergonha.




...And a sense of guilt I can't deny
What happened to the wonderful adventures?

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