sexta-feira, 8 de agosto de 2014

Escorre

Sobre as gotas de água que caíam em minha face, eu já não conseguia discernir se eram da chuva batendo delicada na janela, do chuveiro onde eu estava tomando banho, da sensação de acordar do desmaio, ou de tudo ao mesmo tempo. Quando dei-me por conta, as águas que escorriam corriam dos meus olhos em soluços.
Chorei tudo o que não chorara no último ano. Todas as dores que segurei e mantive no osso do peito acabaram por se soltar, uma a uma, e se arrastaram, rápidas e violentas, para o ralo. De repente, tive vergonha de ter me aberto para eu mesma e aceitado vomitar o que me entalava. A estranhez de situações modificáveis e repentinas...
De joelhos, nua, no chão molhado do banheiro, esvaziei minhas superficialidades. Segurava o ventre com força enquanto assistia o adeus em sangue de algo que nunca foi. A palidez das minhas coxas arderam como se a carne quisesse se abrir.
E, talvez, tenham mesmo se aberto e eu só não vi.


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