terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Os quadros da casa - parte II

O meu  quarto é um quadradinho triste. Nunca foi de grande aconchego, mas eu gostava dali. Das quatro paredes, três eram poluídas – uma era totalmente invisível graças ao armário, a outra abraçava uma janela e a terceira era parcialmente escondida pelo piano.
Quando a artista (conhecedora de arte?) revelou seu enorme desejo de colocar um quadro na única parede que era vazia, entristeci. Era como se aquela parede, virgem, fosse perder a capacidade de me dar oxigênio e eu me sentiria afogada em um lugar que deveria me tranquilizar nas únicas cinco horas em que eu passava habitando – mesmo que dormindo.
Falei que não queria, que colocasse o quadro em cima do piano! Os olhos gordos e brilhantes da moça, juntamente com o mascar compulsivo do chiclete gasto, pararam de exercer suas funções e terminaram em um muxoxo.
Pregado o quadro no lugar em que eu quis ainda tive de ouvir o comentário (in)feliz de uma terceira voz: “Agora te verás todos os dias!”
... Como se eu nunca me olhasse no espelho...

E eles estavam redecorando a casa, conjuntamente, em desestrutura.

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