O meu quarto é um quadradinho triste. Nunca foi de grande aconchego, mas
eu gostava dali. Das quatro paredes, três eram poluídas – uma era
totalmente invisível graças ao armário, a outra abraçava uma
janela e a terceira era parcialmente escondida pelo piano.
Quando a
artista (conhecedora de arte?) revelou seu enorme desejo de colocar
um quadro na única parede que era vazia, entristeci. Era como se
aquela parede, virgem, fosse perder a capacidade de me dar oxigênio
e eu me sentiria afogada em um lugar que deveria me tranquilizar nas
únicas cinco horas em que eu passava habitando – mesmo que
dormindo.
Falei que
não queria, que colocasse o quadro em cima do piano! Os olhos gordos
e brilhantes da moça, juntamente com o mascar compulsivo do chiclete
gasto, pararam de exercer suas funções e terminaram em um muxoxo.
Pregado o
quadro no lugar em que eu quis ainda tive de ouvir o comentário
(in)feliz de uma terceira voz: “Agora te verás todos os
dias!”
... Como se eu nunca me olhasse no espelho...
E eles estavam redecorando a casa, conjuntamente, em desestrutura.
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