domingo, 16 de fevereiro de 2014

Os quadros da casa - parte I

Eles estavam redecorando a casa e, para mim, isso não fazia sentido.


A família desestruturada, desmoronando, distante da idealização contida nas propagandas de margarina... E eles estavam redecorando a casa.
Talvez isso fosse um marco. Como se, inconscientemente, acreditassem que pregar quadros nas paredes fariam da casa um lar recheado de aconchego e, com isso, conseguissem tapear a feiura dos últimos anos de casados.
A cena patética do moço segurando o quadro em uma altura determinada, enquanto que os dois, ao mesmo tempo, falavam "mais para cima... mais para a direita... aí!" rindo, "felizes", entregou a mim um pouco de inveja. E isto, certamente, por crer que os dois eram ótimos quando separados e que juntos se anulavam. Ainda, eu deveria não querer acreditar que o significado daquelas risadas pudessem ser um sinal de que as coisas estivessem dando certo.
Toda a vida, um se submetia e o outro mandava. Os dois submissos. Os dois inseguros.

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