Escondida
atrás da porta da cozinha, ela chorava. Silenciosa. Sentia que o
sofrimento que carregava era incômodo aos demais. Não queria ser
incômodo: queria apenas parar de doer!
A inércia
das palavras presas na sua cabeça – mas que se negavam a sair
para o mundo além dos seus lábios – lhe deixava aflita. Haviam
anotações dos remorsos e angústias espalhados pela casa, em
bilhetes rasgados, que só ela conseguia ver.
Como
conjuga-se o verbo “doer” na primeira pessoa do singular do
presente? Eu doo? Eu doo de doar? Doar dói?
Todas as
visitas sensibilizadas pela palidez da pele, pela falta de brilho dos
olhos verdes caídos. A família a perguntar da transparente saúde
debilitada. E aquele sorriso amarelo surgindo forte, com a mesma
frequência dos comentários desnecessários, murmurando um pobre
“está tudo bem” - como se ouvindo sua voz em
mentira, viesse a soar uma grande verdade.
Se não
está tudo bem, mocinha, por que insistir que está? Por que insistir
na dor, mocinha?