segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

A vida é feia.

As pálpebras escancaradas contrastavam com a sua cabeça, descansada e tranqüila, repousando por sobre o peito daquele rapaz. Ele explanava a sua vida dentro do sonho que consumia seu sono. A garota a fixar detalhes: os corpos nus a se encostarem sem qualquer pudor ou malícia; os dedos dela afagando os pêlos do peito dele; a vida a morrer em cada segundo do ponteiro imaginário do relógio.
A madrugada, a se esvair em sereno, entupia de aflições os pensamentos de Beatrice. E por que aqui? E por que não antes? A vida é feia. A vida acontece sempre tarde demais.
Abrupto, levantou-se. Vestiu as calças. Ia embora. As pupilas negras da menina juntaram-se à noite. Mirava longe. Rebentou-lhe delicada lágrima. Escorreu.Ficou pendente na ponta do queixo...
- Tu me amas? - ele lhe perguntou.
Beatrice sorriu.
- Não.
- Pois eu te amo. E não quero que tu me uses.
O silêncio a corroer as goelas, a fazer doer o peito de cada um.
- Estou apaixonado.
- E o que devo fazer com essa informação?
- Nada, amor. Apenas deixas-me com meus sentimentos! Deixas-me estar apaixonado!...

Quando percebeu, Beatrice havia recebido seu último beijo e as chaves do carro já não encontravam-se em cima da mesa.

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