segunda-feira, 9 de abril de 2012

Cigana

Nestas beiras de vinte e um anos, a vida me fez engolir as máximas que, para os outros, ela lentamente ensina. As cicatrizes vão além de marcas que enfeitam a pele, são gravações em retinas oculares que desenvolvem uma valsa graciosa entre os diversos corpos, as diversas mãos, a união e o compartilhamento de sonhos, copos, suores, prazeres.
Me descobri fumaça, assim, tão nova. Antes eu era fogo e lambia em labaredas as desenvoltas linhas que teu corpo tatuado e cru se apresentou como lar. A presença, em cinzas, deixou marcada a testa de tantos outros. Me descobri fumaça e já não posso querer virar matéria. É assim que me tornei: leve, fácil, sem deixar rastros, cigana.

Eu quero um vento para levantar a saia da mulata; eu quero um samba para que não desanime o ritmo da festança. A vida funciona para quem quer viver. Eu? Eu sou fumaça na vida de tantos, na vida de muitos, na vida de todos.

Um comentário:

  1. Agente quer ser sempre tantas coisas... um dia, uma dia... agente consegue. Descobre. Vira.

    Adorei!
    =*

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