terça-feira, 15 de maio de 2012

Éramos seis (anos)


Ao cruzar aquela porta, deparei-me com o mundo que tanto quis fazer parte. Reconheci, naquele apartamento, a vida que eu quero, ainda, construir para mim. Apaixonei-me por uma estante que percorria toda a parede principal da sala-de-estar, recheada de livros. Livros! Coloridos, velhos, novos, com cheiro de sabedoria, aguardando olhos sedentos. Livros de regras gramaticais, de literatura, de coleção; Goethe e Fausto, Cervantes e Dom Quixote, Machado de Assis e Dom Casmurro, Érico Veríssimo com seu Tempo e seu Vento: todos olhando para mim, questionando a minha história, diferente da que cada um deles porta.
Nas paredes brancas, negras letras formando frases e personalidades. Ella Fitzgerald canta - muda e emoldurada - para os outros quadrinhos de casais apaixonados - em poses congeladas e dançantes. Cálices de vinho com rastros da noite anterior, pérolas de brincos no chão, bitucas de cigarro no cinzeiro: a liberdade (in)feliz de uma vida sem restrições.

E junto com aquele tão conhecido perfume, veio o enlace dos braços dele pela minha cintura, e o beijo, e a língua, e o sexo, e o suor, e, finalmente, novos cigarros. Uma velha lembrança completamente nova.

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