sábado, 28 de maio de 2011

MULHER

"Ser mulher é para Sabina uma condição que ela não escolheu. O que não é conseqüência de uma escolha não pode ser considerado nem mérito nem fracasso. Diante de um estado que nos é imposto, é preciso, pensa Sabina, achar uma atitude apropriada. Parecia-lhe tão absurdo se insurgir contra o fato de ter nascido mulher quanto se glorificar disso.
Num de seus primeiros encontros, Franz lhe disse com uma entonação singular: 'Sabina, você é uma mulher'. Ela não compreendia por que ele lhe anunciava essa novidade no tom solene de um Cristóvão Colombo que tivesse acabado de avistar a costa de uma América. Só mais tarde compreendeu que a palavra mulher, que ele pronunciava com ênfase especial, não era para ele a designação de um dos dois sexos da espécie humana, mas representava um valor. Nem todas as mulheres eram dignas de ser chamadas de mulheres."
(KUNDERA, Milan, "A insustentável leveza do ser". São Paulo: Companhia das Letras, 2008)

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