quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Sonata

Ela tentou morrer. Ela, tão forte e tão frágil, desistiu de si. Alice percebeu a ausência da menina dos olhos verdes e sardas nas bochechas, mas já era tarde. Ela, tão poderosa e tão delicada, deixou que um de seus extremos mais belos mergulhasse sua respiração em uma onda tão forte que quase a levou de vez. Ela, de um preciosismo único, se desfez em mil pedaços tal qual Alice anos antes.
- Tu te sentes frustrada ou aliviada de não ter conseguido? - perguntei.
- Frustrada. - Ela respondeu.
O instante que o ar se perde e nos sufoca é ensurdecedor. Toda a força se transforma em milhares de coisas que já não nos representa. Perde-se a essência. Os olhos já não enxergam o conjunto inteiro e o pulso aberto suplica ao corpo uma força que não existe para poder se estender ao pedido de socorro.
Os olhos adormecem, mas não vitrificam. O sangue verte, morno, incessantemente. Uma eternidade. Ninguém entenderá o motivo: esta sinfonia esculhambada que é a dor de estar vivo.

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