quinta-feira, 14 de fevereiro de 2019

Dylan

   Tudo começou quando eu, pequena, sentava no carpete e ficava balançando os dedinhos dos pés descalços ouvindo aquela voz levemente rouca e um pouco fanha de um menino e seu violão. "Hey, Mr. Tambourine Man" ele dizia. E eu, que só sabia falar francês, não entendia as palavras dele, mas prestava atenção até levantar e dançar dobrando os joelhinhos, depois deitava no carpete, fechava os olhos e ficava imaginando o que aquele moço queria me dizer.
   Os anos passaram e surgiram Os Famosos e Os Duendes da Morte para me ensinar que a "Jingle-Jangle morning" teria que ser enfrentada com um silêncio que só o sopro de sua gaita seria capaz de me fazer abrir os olhos e recomeçar a desvendar o mundo com tanto cuidado até entender que "it's all over now, baby blue".
   Foi quando eu deixei de cuidar de mim que veio Ravel em minha vida para cantar "Ballad of a Thin Man" numa terça-feira de sol, me fazendo perceber que eu tento bastante, mas eu não entendo; que algo está acontecendo aqui e eu não sei o que é. "For the times, they are a-changing..."
   Sempre que algum dos meus vagões cai dos trilhos, é aquela mesma voz e violão que vai me fazer chorar e recompor, para que eu possa balançar os dedinhos dos pés e abrir os olhos para o mundo com a mesma determinação, mascando o medo com a parte esquerda do maxilar, para que tudo, ao final, venha me dizer que "the answer is blowing in the wind".


Nenhum comentário:

Postar um comentário