sexta-feira, 1 de junho de 2018

Finalidade

   De repente o corpo todo dói. A cabeça, as mãos, o estômago, a face... Tudo se contrai trazendo uma dor insuportável com sensação de eternidade. As lágrimas rolam e nós só queremos descobrir como fazer parar de doer. Por onde se começa a reconstrução? O estrago é tão grande que não tem mais como ajeitar sem permanecer torto... Será que as pessoas vão entender? Será que, olhando para trás, vão enxergar o que eu passei e o motivo que me leva a estar assim?
   Por que as pessoas têm de entender? Por que elas julgam? É coragem ou loucura? É um instante de determinação ou de medo? O último pulo, o último engolir, a última sensação de liberdade, a última sensação de arrependimento, a última ironia de... a última sensação.

   Tudo o que eu queria já ter realizado e está tão longe de realizar... que não irei realizar. Por que ficar? O que me mantém?
   Todas as decepções, as doenças, os amanheceres em mim, tão difíceis e tão presentes... os pesadelos tão vívidos e nunca distantes. Como encarar? Como fugir? Como ficar? Para que ficar?
   Todos os cacos de porcelana mastigados durante anos e as cicatrizes nunca cicatrizadas que só eu enxergo... Como curar? Como costurar? Como se manter? Para quê?

   De repente paramos de sentir. Parece que tudo já acabou. A dor passou, as lágrimas não descem mais, o corpo inteiro morto. Morto, porém vivo. Ainda respiro e nada fiz. E a cada momento desses, me questiono o que me mantém. O que me mantém? Todas as vezes eu soube responder. Não queria decepcionar alguém, não queria destruir alguém, não queria fazer sofrer, não queria não completar minhas promessas, não queria... não queria de verdade, na realidade. Agora é diferente. Algo me segura e eu não sei por quê. Não me importa a quem posso magoar ou ferir, não me importa se irão me entender ou quem assumirá a culpa. Quem irá chorar. Quem não ficará sabendo. Não me importa. Mas... o que me mantém?


Um comentário:

  1. Só vivo hoje porque sei que tu está aí. É o que me faz acordar, trabalhar, aguentar toda a merda do dia a dia. Saber que tu vai ler e dizer 'ooun' com a mão direita na boca apertando a boca e expremendo os ombros.

    Detalhes. De cor. ChooChoo.

    ResponderExcluir