domingo, 1 de maio de 2016

Delírios convulsivos

Sabe aquele dia que tu acorda e pensa: "que merda eu ainda tô respirando?"... Talvez já faça tempo demais que. Treze anos se passaram e eu. Acordo todas as manhãs e. Escuto o tempo todo que tenho de buscar ajuda, tratamento, que não posso pensar assim. Mas eu continuo. É uma agonia tão sufocante querer sentir algo que as pessoas impõem que tu sinta. E tu nunca chega nem perto de conseguir...
Ainda tem aqueles que dizem que o segredo para não sentir a dor é esvaziar os pensamentos. Pôr para fora. Bem... Não foi uma, duas ou três vezes que eu fiz isso. Nenhuma deu certo. Tanto não deram certo como ainda aprendi a me retrair. Não contar de mim. Sabe de mim quem eu quero que saiba e, mesmo assim, sabe exatamente o que eu quero que saiba. Manipulados os comprimidos.
Uma vida quase que inteira de sufocamento. A língua entalada, a respiração difícil, as mãos que tremem, as pernas que desabam. Nunca foi tão difícil conseguir me olhar no espelho.



Às vezes me questiono se esse buraco, nem tão fundo e nem tão raso, que está à minha frente, se fui eu quem o cavou. Fico horas me questionando por qual motivo essas merdas de lágrimas ficam escorrendo se eu sequer nem dei motivo para que aparecessem. Quando percebo, o gosto do sangue já acariciou minha carne: o vinho tinto do meu ser. Por que é tão difícil respirar? Por que eu não consigo enxergar as coisas com a película repleta de flores, jasmins e céu claro? Me disseram que a gente permanece no lugar que criamos, nosso mundo encantado, que devo criar um lugar bonito para mim. E se o Éden não for nada além de um sonho de Adão enquanto dorme perto do esgoto? Tudo isso me parece tão falso, irreal, forçado.
Enquanto as pessoas se agarram na utopia de que a esperança deve permanecer em chama alta dentro de nós, eu me olho no espelho e me vejo apodrecida. A dor de quem eu sou. De quem me tornei. De quem me deixei para trás. Onde, realmente, eu estaria agora?

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