quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Plenitude

Lembrei do dia que eu fui embora da casa dele - que "deveria ter sido" o último dia (coloquei entre aspas justamente porque nunca deveria ter sido, assim como não veio a ser). Relembrei o ar gelado mordiscando as minhas bochechas logo que coloquei o pé na rua, bem como o momento em que parei no meio da calçada para dizer em voz alta que eu precisava entender que ele não era mais meu. (...) E lembrei disso tudo para poder me encontrar, minutos antes, passando meus dedos por entre os cabelos dele enquanto observava cada traço daquele rosto. Dentro de mim, eu explodia. A convicção de que a palavra "amor" não era apenas um jargão da linguagem juvenil.

Numa dessas noites castigantes de verão, fomos tecendo histórias. Em cada ponto, lá estava um pouquinho de mim. Um pouquinho dele. Um entrelaçamento dos nossos íntimos. E exatamente aonde me deparei com um breve nó, segurei um choro que não tardou. Mesmo sem me ver, ele sabia que eu chovia. Cada lágrima era uma gota no copo que transborda.
Eu choro o tempo todo, mas nem sempre significa que é algo ruim. Naquela noite, eu amadureci tantos anos quanto não achei que pudesse. Quando amanheceu, eu estava plena.

A lembrança desse homem veio tão forte em mim que eu pude sentir os meus dedos passeando pelos cabelos escuros dele. Fechei os meus olhos e vi o olhar distante e inteligente dele passeando preocupado naquele ponto da minha perna. O nariz perfeitamente desenhado e a tez franzida. As cores... 
E em meio a tanta saudade, aceitei que não devo tentar entender. Apenas, sentir.



Ps: as pessoas se perdem muito por aí e nós não: nós estamos no lugar certo.

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