segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Sépia

Li, certa feita, em algum lugar por aí, que não demonstrar o que sentimos por alguém especial é "muito, muito feio". Talvez, de uma forma um tanto oblíqua, eu consiga clarear como o mundo se apresenta para mim. Ademais, começo essas tortas palavras com uma breve observação: com ele, aprendi que já não preciso explicar a pureza do que é verdadeiramente o verbo 'sentir' (aquela análise romântica que a primeira metade do século XIX trouxe para dizer, com muito significado, o que jamais seria breve:  a essência que tinge os olhos em um brilho cristalino, os tons rubros que só ele limita em minhas bochechas, ...). Basta - simplesmente - sentir.

Ele pegou a minha mão e a volteou, cuidadosamente, no ar, me convidando para entrar na dança. Completei o giro e sorri. Os olhos baixos. A música nem era aquela que precisava ser e eu não encaixei no ritmo. Nem devia. A música certa estava dentro das nossas cabeças e o ritmo iria ser como nós quiséssemos. A dança era nossa e não dos outros. O beijo veio e também dançava. Pálpebras fechadas. Felicidade brevemente contida. Brevemente.


O conforto do silêncio que é só teu vai me fazer falta nesses últimos capítulos que 2014 ainda reserva. No último dia em que estivemos juntos, todo o teu sorriso me engolia - e ficou registrado dentro da minha íris tal qual fotografia antiga. Dizem que, quando é assim, tudo aceita a explosão em labaredas, mas o momento não. A imagem não. Fica. Permanece. Intacta apenas para quem percebe a coerência. Colorindo o tom sépia.

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