sábado, 18 de outubro de 2014

A Causa Secreta

"(...) os olhos não puderam conter as lágrimas, que vieram em borbotões, lágrimas de amor calado, e irremediável desespero."

Ela transbordou em chuva. Tempestade.
Já não sabia se sentia raiva dele ou de si. Já não sabia se aquilo tudo voltaria a fazer algum tipo de sentido naquela montanha-russa sem trava de segurança. E as primeiras palavras que falou para ele foram consumidas por soluços e afogados em rancor. E o desespero dele ficou embebido no silêncio, como se pudesse transmitir calma e serenidade. E ela quis bater no peito dele até ele abraçar ela e mentir dizendo que ela teve só um sonho ruim.
Mas ela estava cansada de mentiras, de tentativas inexplicáveis, de fugas sem sentido. E ele precisava se encarar e tentar adivinhar o que era melhor para ele, sem ver ela triste. Ele não entendia que ela sempre fugia e, pela primeira vez, ela queria ficar. Ela não entendia que ele já tinha ficado tempo demais.

De repente, chegou o último dia. O abraço que deu nela, de despedida, foi recheado de um ne-sais-pas-quoi muito especial. Talvez tenha sido só um abraço, mas ela quis dar um significado para aquilo. E os beijos que vieram depois tiveram um gosto único. Enquanto passava os dedos pela barba dele, conseguia pensar apenas no quão lindo ele é, o quanto o queria bem, o quanto já sentia saudades... E ele perguntou:
- A gente ainda vai se ver, né?
Quando saiu de lá, não sentiu nada. Não estava triste, nem estava contente. Não sentia nenhum vazio, mas também não se sentia repleta. De repente, atravessados os portões daquele prédio, parou de andar e, sem olhar pra trás, disse em voz alta: "Agora preciso compreender que tu não és mais meu".

Assim, tudo findo, iniciou-se um novo começo. As esperanças de dar certo se confundiram com a fumaça do cigarro que ela fumou e extinguiu no ar escuro da noite. Acabou o foco e sumiu o rumo. Quando chegar o dia "D", talvez ela já não queira vê-lo, nem tocá-lo. Talvez ele queira ela de volta...
Ela, que já transformava seu nome, descobriu-se réptil novamente. Já não sabia como ele se sentia e nem quis adivinhar. Acabou. Acabou!
Acabou e foi melhor pensar dessa forma, tatuando em si, na alma, para não esquecer. Porque é melhor não criar expectativas e ser surpreendido, do que abraçá-las e frustar.


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