sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Esquadrilha da fumaça

(Dica: "Elephant Gun" - Beirut)
Expor um sentimento nem sempre é tão complicado quanto parece, ou quanto as pessoas tentam pintar. Corretamente, aceita-se o fato de que a língua falada não é capaz de reproduzir tudo o que de fato se deseja. É como querer traduzir a palavra "saudade" do português para o inglês, o francês, o grego...
Sentir é único e incomparável. Imensurável.
Quando uma criança recém-nascida chora, ela exprime o que está sentindo. E continuamos chorando até a morte - talvez não pelos mesmos motivos de outrora, mas assim é. Prosseguimos, com um aumento espetacular de esforços, na tentativa de explicar onde dói ou como é deleitosa determinada apreciação.

No momento em que tu me puxaste para perto do teu corpo, o Sol nos abraçava fortemente. Os aviões se cruzaram desenhando em fumaça a simbologia do que sentíamos: um coração. Ali, não havia nenhum "eu te gosto", "eu te adoro" ou "eu te amo" que necessitasse ser dito. Éramos dois pares de olhos a fitar o céu, o timbre quieto pelo palpitar do músculo desenhado no firmamento azul, projetado na nossa íris, na nossa memória;tua mão contorcia a minha. Uma fotografia imobilizada na (nossa) história, passível de tornar-se pública ou reclusa.

A oralidade deixa a desejar para a cinematografia; a cinematografia nunca vai promover a capacidade específica de sentir. Enquanto isso, teus dedos na minha pele, teu perfume adentrando minha roupa, o toque das tuas pupilas nos meus lábios... O silêncio mudo de anos sendo rasgado por outro silêncio, dessa vez, feliz.

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