quinta-feira, 21 de junho de 2012

Boteco

Mesa de bar. Eram dois sorrisos finos em lábios finos. Falavam  espanhol. Um, eu não via; só as costas, a nuca, o cigarro queimando entre os nós dos dedos. O outro eu batizei de Ronaldo... Ricardo... Rômulo! - qualquer nome com "R" -. Acho que combinava com o nariz desenhado e reto que ele tinha. A fumaça resvalando pelos lábios frágeis. Os dentes brancos, sempre à mostra. Balançava a cabeça como quem desaprova. Covinhas nas bochechas.
A espuma da cerveja de marca ruim flutuava no copo. Discutiam política, os Simpsons, os americanos. Argentinos! Eram, os rapazes, definitivamente, argentinos.
E eu prestando atenção na mesa do lado enquanto o moço da minha mesa, na minha frente, olhava fixo - pois já não sei se lia - as costas de "Ovelhas Negras". Ali estava Caio Fernando Abreu reproduzindo orgulho de mim, de outra perspectiva (certamente!), observando-nos nessas duas mesas. Ria-se do universo em sua estupidez.

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