segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Meu arrebol

Enquanto o céu negro e sem estrelas despenca sobre nós e o silêncio nos engole, há vida nessa casa. Uma pequena e faminta, que urge e ruge. Dentro e fora de mim. Insaciável.

Tudo mudou, com tanta violência e ferocidade, que eu nem sei mais o que me dói. Não sei, porque agora somos duas. A tua dor é a minha dor. A minha vida também não é mais só minha.

E Deus é bom. De um jeito misterioso, Deus é bom. Não aquele Deus bíblico e colérico, mas aquele algo maior que me protege de mim mesma há tanto tempo. Deus é bom. 

Enquanto o céu negro e sem estrelas despenca, estamos aqui. Enquanto o sol nos queima e o calor sufoca, seguimos aqui. Enquanto a chuva lava e as gotas congelam, ainda continuaremos aqui.

Não importa quantos trens seguirão viagem, quantas borboletas baterão suas asas, quantos passarinhos cantarão e nem quantos amanheceres coloridos nos embalarão: a Vida sempre vai estar presa nesses momentos - tão únicos e tão nossos. Só nossos. Dentro dos meus braços. 

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