Não se ouve mais o barulho do trem. Essa doença suspendeu até esse meu único deleite. Deitada na cama de lençóis azuis, os cabelos alaranjados contrastavam. A tez da minha pele combinando com as páginas pálidas do livro. Os óculos; o café; o cigarro invisível. Saudade de escrever. De ler. De viver.
Sempre culpei as pílulas, mas talvez eu tenha mudado por mudar e não por causa delas. Por conveniência. Não sou mais criança, apesar de me portar como uma às vezes. Saudade de me portar como criança e isso ser lindo aos olhos de todos. Saudade de ter todos os amigos reunidos. Sábado à tarde. Os trilhos do trem.
Saudade do barulho do trem. As vozes do trem, o marchar, o som metálico abraçando minha retina. A metamorfose imaginária que só eu entendo. Eu e ele, um anjo de 60 toneladas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário