Ainda não descobri que rosto tem a minha liberdade. Eu sei que ela me dói e faz chorar às vezes. Essa busca insaciável pelo bem-estar, pela paz, pela cicatrização do peito aberto... Eu cansei. Que se dane! Talvez custe curar os cortes, mas, ao menos, eu paro de perder tempo.
(Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.)
A ferida aberta me diz: "Calma! Segura um pouco...". Em simultâneo momento, os tecidos inteiros urram: "Deixa machucar!".
(Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.)
Se os peixes pararem de nadar, as águas não vão parar de correr. Se eu dormir uma hora a mais, o dia já vai estar quente e vou ter perdido o arrebol da segunda-feira...
(Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac. Tic-tac.)
Quero me enrolar na tua língua, ter espaço entre os teus dedos, ser a responsável pelo aparecer da covinha na tua bochecha quando sorris. Quero beijar tuas sardas, me embebedar no mesclado alcoólico dos teus olhos, redesenhar em mim todas tuas tatuagens. Quero ser o pronome possessivo que os teus lábios expelem, ser explorada em cada arrepio, ser teu par em todas as danças. Deixa que eu largue de ser cigana e me transforme na tua chave, teu perfume, tua cama? Deixa eu deitar nos teus sonhos?